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Jack - O Caçador de Gigantes | Crítica

Uma aventura para ver sem prestar atenção

28.03.2013, às 18H34.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Nascida entre redes sociais e aplicativos para celular, a Geração Z define um grupo social marcado pelo déficit de atenção e o egocentrismo.  Para atender esse público jovem e exigente, com um nível de tolerância medido em frações de segundos e número de caracteres, os estúdios precisam, mais do que nunca, antecipar tendências. A primeira foi a Universal com Branca de Neve e o Caçador, seguida pela Relativity Media e seu Espelho, Espelho Meu. A Paramout pensou em João e Maria – Caçadores de Bruxas, a Disney no seu prelúdio de O Mágico de Oz, e a Warner Bros. encontrou em Jack - O Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer) a sua oportunidade de recriar o gênero da fantasia em um universo 2.0.

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O projeto surgiu em 2005, de uma ideia do roteirista Darren Lemke (Shrek Para Sempre) e chegou a ter DJ Caruso como possível diretor. Foi em Bryan Singer, porém, que o estúdio encontrou o condutor ideal dessa nova tendência. Com a experiência adquirida em X-Men, Singer teria as habilidades necessárias para criar uma fantasia moderna, cheia de ação e com potencial para se tornar uma franquia, pronta para preencher o vazio de uma audiência sem imaginação. Na nova versão de João e o Pé de Feijão (que também se vale de elementos de outro conto de fadas inglês, Jack the Giant Killer), o protagonista continua a ser um rapaz pobre e sonhador que troca o único bem da família (uma vaca no original, um cavalo aqui) por um punhado de feijões. A diferença é que essas sementes, antes símbolo da inocência e da esperança, são agora partes vitais de uma conspiração pelo trono de um reino.

Apesar da aparente complexidade, Jack – O Caçador de Gigantes foi pensado para um público que vai ao cinema com o celular em mãos. Daí os personagens mal desenvolvidos, por exemplo. É possível assistir a 20 minutos, checar se alguém curtiu a foto do seu almoço no Instagram, e voltar sem que o personagem de Ewan McGregor, o guarda real Elmont, tenha evoluído de qualquer forma. O carisma do ator é desperdiçado em um militar engraçadinho e unidimensional, que serve apenas para que Jack tenha com quem interagir durante a escalada do pé de feijão. O mesmo vale para o rei Brahmwell de Ian McShanee, que tem sua presença limitada à repressão e, consequentemente, à rebeldia da filha. Staley Tucci é quem consegue dar um pouco de corpo ao seu personagem, mas sua participação acaba desperdiçada por Singer, que tem olhos apenas para o casal protagonista (Nicholas Hoult e Eleanor Tomlinson). Mais uma vez, o mocinho precisa salvar a mocinha para chegar ao "felizes para sempre". A única evolução é que essa donzela fica em perigo por querer se emancipar: foge da casa para descobrir o mundo por si mesma.

Se o princípio do público desatento vale para o roteiro (afinal, “as pessoas não querem pensar, querem se divertir”, é a principal defesa nos comentários), a mesma coisa não cabe ao visual. Imagética, essa geração não aceita o aspecto “retrô” dos gigantes em computação gráfica, tão sem vida, textura ou carisma. O mesmo vale para o 3D, que apesar do suposto cuidado nas filmagens, não acrescenta nada em um filme cujo mote permitiria explorar criativamente a escala entre gigantes e humanos ou o vertiginoso pé de feijão. Há também um estranhamento entre os efeitos especiais e a direção de arte/figurinos, pensados para contrastar a nobreza humana dos bárbaros gigantes. A riqueza do figurino, com suas armaduras e penteados elaborados, acaba por tornar ainda mais evidente a pobreza do CGI.

Essas falhas visuais talvez sejam a grande causa do fracasso de Jack - O Caçador de Gigantes nos cinemas norte-americanos (o filme fez apenas US$ 60, 092 milhões para um orçamento de US$ 195 milhões). O mesmo aconteceu nos EUA com João e Maria – Caçadores de Bruxas e Espelho, Espelho Meu, mas não com produtos mais elaborados ou coloridos como Branca de Neve e o Caçador ou Oz: Mágico e Poderoso. A Geração Z não exige história, mas precisa de um visual impecável (lógica que não vale, porém, com os fãs de Crepúsculo). Para fazê-la pagar o ingresso é preciso esforço e Singer e a Warner subestimaram seu público-alvo. O resultado é uma lição moralizante, como nos contos de fadas.

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Nota do Crítico
Regular