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É sempre um prazer assistir a um filme do escritor e diretor David Mamet. Mesmo um Mamet menor é um filme acima da média. Seus diálogos inteligentes sempre criam um clima de tensão, que prendem a atenção do espectador. Em Spartan (2004), ele volta a temas já abordados em outras produções: espionagem, mentira e traição.
Militar de longa carreira em operações secretas, Robert Scott é convocado para encontrar Laura Newton, filha desaparecida de um funcionário do alto escalão governamental, e passa a ter como parceiro o novato Curtis (Derek Luke). Trabalhando com o apoio do FBI e da CIA, a dupla descobre uma rede de exploração de trabalho escravo possivelmente relacionada com o desaparecimento da moça. As investigações deveriam ser subitamente interrompidas quando a morte de Laura é divulgada, mas Curtis não se dá por satisfeito e convence o colega a seguirem por conta própria.
Mamet nunca facilita o enredo. Nas primeiras cenas, o espectador fica curioso em desvendar o que vai acontecer. Quando acha que compreendeu a história, ela toma outro rumo. O texto de Mamet tem essa virtude. Ele movimenta seus personagens como se estivesse jogando pôquer sem cartas. A cada nova rodada ele blefa, criando uma dependência no público por mais informação.
Nesse novo trabalho, ele escalou Val Kilmer para viver Robert Scott, um cara durão, inteligente e impiedoso. Depois de algum tempo sumido, o ator está de volta e em ótima forma. Alguns dos artistas preferidos do diretor também participam do projeto: William H. Macy, Ed ONeill e David Paymer. O elenco interage de forma prazerosa pelos diálogos afiados de Mamet. Nenhum outro roteirista consegue que seus personagens falem de forma tão espirituosa e inteligente.
O roteiro de Spartan não é o melhor trabalho do criador de Deu a louca nos astros (2000) e O Assalto (2001), mas consegue ser imprevisível e enxuto. Tudo é eficiente para sua narrativa. Toda fala que é repetida possui uma razão, com um significado ou ênfase diferente - uma das características da escrita de Mamet. Isso fica claro quando Scott ensina Curtis a perceber que está sendo seguido. Segundo o experiente agente "na cidade é sempre um reflexo, na floresta é um som". Curtis pergunta "E no deserto?" e a resposta que recebe é "Você não vai querer ir ao deserto". E temos prova disso no desenrolar da história.