Depois de uma curta temporada em cartaz em São Paulo, chega ao Rio de Janeiro o idílico Samsara (idem, de Nalin Pan, 2001). O filme narra uma história de amor e busca espiritual, ambientado nas magníficas paisagens de Ladakh, no Himalaia.
A palavra "Samsara" é nome da doutrina hindu da reencarnação, que afirma que o espírito precisa passar por uma série de vidas terrenas enquanto evolui para atingir sua meta. A analogia com a história do filme não poderia ser mais direta. Nele, Tashi (Shawn Ku), um jovem monge budista, retorna ao seu monastério depois de passar três anos, três meses, três dias e três horas numa isolada maratona de meditação nas montanhas.
Recuperando-se da dura provação, Tashi começa a se sentir perturbado por desejos eróticos e pela vida exterior, de posses e consumo. O empurrão final para que o monge experimente uma nova vida vem na forma da filha de um agricultor local, a jovem e bela Pema (Christy Chung).
A contragosto do ancião Apo (Sherab Sangey), o ex-monge deixa o monastério e parte para o mundo com uma sede de descobrimento comparável apenas ao seu antigo fervor religioso. Tashi acaba casado com Pema e decide intervir na situação em que vive o pai da garota, que tem sua produção de grãos comprada a preços irrisórios por um comerciante explorador. A partir daí, o jovem começa a despertar paixões, ódios e até mesmo a experimentar os prazeres capitalistas inexistentes na vida monástica. Merece destaque uma hilária cena na qual Tashi entrega-se ao consumo desenfreado e outra, quando descobre os prazeres secretos do Kama Sutra (ou "o que fazer com uma vara e um véu").
Samsara demorou seis anos para ficar pronto. O resultado final, além de discutir a essência do budismo de uma maneira nada convencional, é de uma beleza plástica arrebatadora, com uma luz belíssima e interpretações sinceras.
O mérito é todo de Nalin Pan, cineasta autodidata nascido na Índia, numa família de hinduístas e budistas. Em Samsara, o diretor conseguiu levar um testemunho de sua cultura para o mundo, coisa que filmes de cineastas ocidentais como Martin Scorsese (Kundun) ou Jean-Jacques Annaud (Sete Anos no Tibete) conseguiram apenas arranhar a superfície.