Por mais que a idéia principal de Pequenos Espiões (Spy kids, 2001) - crianças salvam os pais com a ajuda de trecos à maneira de James Bond - seja original, o segredo do êxito está atrás das câmeras. Graças ao diretor texano Robert Rodriguez, de filmes como Um Drinque no Inferno (From dusk till dawn, 1996) e Prova final (The Faculty, 1998) a película deixou de ser uma produção unicamente infantil e chegou ao patamar de diversão estilosa, também, para os mais velhos.
Rodriguez não é o Rei Midas, mas tudo que toca vira sangue, humor negro, ação e sucesso, invariavelmente envolto por uma certa mitologia própria. Reza a lenda que El Mariachi (1992), seu primeiro longa, aos 24 anos de idade, custou apenas US$ 7 mil, dinheiro que o diretor conseguiu servindo de cobaia em testes de drogas. Em relação a Pequenos Espiões, Rodriguez teria editado a película em sua garagem. Se as histórias são verdadeiras ou não passam de marketing, pouco importa. A discussão fica esvaziada diante do efetivo talento do diretor.
Rodriguez monopoliza as funções e, freqüentemente, dispensa assistentes de direção. Em Desperado (1995), a refilmagem hollywoodiana de El Mariachi, o diretor abriu uma exceção e permitiu que Antonio Banderas, amigo e protagonista da maioria de seus filmes, comandasse uma seqüência em um banheiro de bar. Agora, com Pequenos espiões 2: A ilha dos sonhos perdidos (Spy kids 2: The island of lost dreams, 2002), o espectador pode ficar tranqüilo. Como no primeiro filme, Rodriguez produz, roteiriza, dirige, edita e compõe a trilha sonora. E na nova trama, ainda ocupa as cadeiras de desenhista de produção e diretor de fotografia.
Agora, os irmãos Carmen e Juni (Alexa Vega e Daryl Sabara), filhos dos famosos espiões Gregorio e Ingrid Cortez (Banderas e Carla Gugino), tornam-se agentes oficiais. Em sua primeira missão, precisam investigar uma misteriosa ilha vulcânica, comandada pelo cientista louco Romero - interpretado por outra figura fácil nos filmes de Rodriguez, Steve Buscemi, ator que sempre faz o personagem coitado, que morre de forma violenta. Para piorar, Carmen e Juli precisam enfrentar os monstros mutantes da ilha, animais híbridos, piratas-esqueletos e uma dupla de concorrentes, os jovens espiões Gary e Gerti Giggles (Matt OLeary e Emily Osment).
Os efeitos especiais continuam criativos, apenas recebem a atualização técnica necessária. E os atores coadjuvantes, novamente, dão um show. Entre eles, Mike Judge, o criador de Beavis & Butthead, como o pai de Gary e Gerti. Ou o veterano Ricardo Montalban, de clássicos como Ilha da fantasia, no papel do vovô Cortez. Ou, então, como Tio Machete, o tatuado mal-encarado Danny Trejo, cujas personagens em filmes de Rodriguez sempre têm uma arma no meio do nome. Em Desperado, ele era Charlie Navalha.
Filme divertido é isso aí: as referências cult aparecem aos montes.