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Nas primeiras cenas do documentário Paulinho da Viola - Meu tempo é hoje, Paulinho afirma que não sente saudade. Ao longo de todo o filme, no entanto, fica claro que um grande ator coadjuvante em sua vida é o tempo.
Tempo que ele trata de forma peculiar não apenas em sua música, mas na forma como vive. Em seu trabalho de artesão da marcenaria, para quem o tempo de execução é o que menos importa, ou como reformador de carros antigos, levando - literalmente - décadas para arrumá-los.
Na bênção que pede aos membros da Velha Guarda da Portela, que Paulinho trouxe - e traz - do passado ao presente, e nos versos trazidos de Wilson Batista: "Eu sou assim/quem quiser gostar de mim, eu sou assim/meu mundo é hoje/não existe amanhã pra mim...".
Para Paulinho, saudade se sente daquilo que não se tem mais. E ele parece ter todas as coisas que lhe importam dentro de si. São elas que desfilam aos olhos do espectador.
A intimidade discreta. A vida em família, seus muitos filhos (sete), o bate-papo com os amigos, a sinuca. A reverência ao pai, que não o queria músico. A elegância própria de quem é, afinal, senhor do tempo.
Tudo entremeado por sua música e seus parceiros. Um dos pontos altos do filme é dar voz e rosto à Velha Guarda da Portela, menos conhecida fora do Rio de Janeiro.
Izabel Jaguaribe, a diretora, consegue estender à tela o tempo tranqüilo de Paulinho. Nada está em excesso. Ou, usando as palavras dele: "Tudo está presente, o que me toca é o que está comigo agora".
Um filme não somente sobre um grande compositor e cantor, mas sobre um lado luminoso do Rio de Janeiro e da cultura brasileira.