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Olhos que não Vêem | Crítica

<i>Olhos que não vêem</i>

29.09.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Olhos que não vêem
Ojos que no ven
Peru, 2003
Suspense/policial - 150 min.

Direção: Francisco Lombardi
Roteiro: Milagros Tuccio

Elenco
: Paul Vega, Gustavo Bueno, Gianfranco Brero, Carlos Gassols, Jorge Rodríguez Paz, Melania Urbina, Sandro Calderón, Tatiana Astengo, Carlos Alcántara, Patricia Pereyra, Jackelyne Vásquez.

Olhos que não vêem (Ojos que no ven, 2003) é um filme de seis histórias e vários personagens. Como pano de fundo para tudo isso está o escândalo político dos vladivideos. Na época em que foi produzido, vieram à tona as fitas de vídeo em que o conselheiro presidencial do Peru, Vladimiro Montesinos, aparecia subornando opositores políticos. O fato acabou ocasionando a queda do presidente Fujimori.

Dirigido por Francisco J. Lombardi (Pantaleão e as Visitadoras) e escrito por Giovanna Pollarolo, o filme encerra a trilogia começada por La Ciudad y Los Perros (1985) e Tinta Roja (2000).

A história caminha lado a lado com os fatos políticos e serve de cenário para a adversidade, humor e pânico enfrentado pelos personagens. Acamados num hospital que serve de interseção das histórias, Don Lucho e Don Victor discutem sobre a política do Peru. Eles acompanham através dos noticiários da TV os eventos que iriam mudar o Peru. Eles atuam como o coro do antigo teatro grego, em que as notícias debatidas irão influenciar as vidas dos outros personagens. Victor recebe as visitas diárias de sua neta Mercedes, uma estudante adolescente, que está preocupada com a prisão de seu pai. Este pede para contactar Peñaflor, um advogado que faz parte da corrupção do país e paga altas somas de dinheiro para juízes e membros do governo por favores. O que poucos sabem sobre o advogado é que ele é um pedófilo que pede para as prostitutas se vestirem de estudantes e assim satisfazerem seus desejos mais proibidos.

Elena preocupa-se com a segurança de seu marido, um cientista forense que está desenterrando os corpos dos mortos pelos militares. Ela acaba sendo atropelada pelo General Revoredo, membro do alto escalão do governo. Desesperado, o militar resolve acompanhar a recuperação da moça, com medo de ser acusado pelo acidente. Gonzalo, famoso âncora da TV, começa a enlouquecer quando seu maquiador, Angélica, percebe um sinal em seu rosto que começa a crescer. O namorado de Angélica, Chauca, é um homem aterrorizado devido à sua cumplicidade em crimes realizados pelo governo. Rodolfo é um idiota, empregado do Palácio da Justiça, responsável em guardar as fitas de Montesinos. Ele sonha em conquistar Eva, a egoísta filha de sua senhoria.

Como pode-se perceber, Lombardi constrói suas pequenas historietas bem ao estilo de Magnólia (de Paul Thomas Anderson, 1999). Ele faz um mix entre documentário e drama, interagindo os personagens de forma direta ou indireta. Lombardi é um diretor antenado e preocupado com a situação de seu país. As situações vividas por cada um dos atores possuem um significado implícito. O sinal no rosto de Gonzáles é câncer em desenvolvimento, que representa a situação caótica do Peru. Os devaneios de Rodolfo por Eva representam como estava a cabeça da maioria dos jovens - alienados e preocupados apenas com sua própria existência. O filme fecha os dramas de forma coerente e perfeita. Servindo como documento da situação do povo daquela época no Peru.

Nota do Crítico
Bom