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O Virgem de 40 Anos | Crítica

<i>O virgem de 40 anos</i>

22.09.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H18

O virgem de 40 anos
The 40 Year Old Virgin

EUA, 2005
Comédia, 116 min

Direção: Judd Apatow
Roteiro: Steve Carell e Judd Apatow

Elenco: Steve Carell, Catherine Keener, Paul Rudd, Romany Malco, Seth Rogen, Elizabeth Banks, Leslie Mann, Jane Lynch, Gerry Bednob, Shelley Malil, Kat Dennings, Jordan Masterson, Chelsea Smith, Erica Vittina Phillips, Marika Dominczyk, Mindy Kaling, Mo Collins

Alguns atores camelam anos em papéis de aluguel antes de serem descobertos, de ganharem um filme só para si. Steve Carell, não. Bastaram duas coadjuvações em Todo Poderoso (2003) e O âncora (2004) para sua carreira, até então apagada na televisão, eclodir. Com cara de paspalho que não entende o que se passa ao redor, ele foi imediatamente escolhido para ser o David Brent americanizado do The Office da rede NBC. Não só isso: Carell interpretará o Agente 86 em uma versão do seriado clássico para os cinemas.

Em O virgem de 40 anos (The 40 year old virgin, 2005), de Judd Apatow, seu primeiro trabalho como protagonista nas telonas, Carell mostra que tem versatilidade para carregar um filme nas costas. Mas serve de prova, também, de que nem todo o carisma do mundo adianta quando o material cômico é limitado.

O começo do filme é bom por conta do ator. Aliás, o próprio pôster, de uma simplicidade hilariante, se escora na figura otimista-imbecil de Carell para fazer rir. Na trama, ele vive um tipo igualmente ingênuo, Andy Stitzer. A câmera acompanha Andy pela manhã, enquanto ele acorda, mas mesmo desfocada o que atrai a atenção do espectador é a decoração da casa. Bonecos lacrados na caixa, pôsteres de clássicos B, mais bonecos, de heróis, de séries setentistas, poltrona adaptada para videogame... Enfim, fica evidente que a associação consagrada do nerdismo adulto com a inadequação social será o enfoque principal aqui.

Andy trabalha como estoquista de uma loja de eletrônicos. Não é explicitamente zoado, mas também não é levado a sério. Certo dia, porém, seus colegas de trabalho (vividos por Paul Rudd, Seth Rogen e Romany Malco), em busca de um parceiro para o pôquer, convidam Andy para jogar. Conversa de homem, falam de sexo. Andy até tenta disfarçar, enfia uns palavrões no relato de suas experiências, mas é pego quando descreve a sensação de pegar nos peitos de uma mulher. Os três descobrem que ele é virgem e não descansarão até que esta situação se resolva.

Sinopses dizem que Andy opta pela abstinência quando encontra uma mulher que vale a pena, Trish (Catherine Keener). Não é bem isso. Andy quer transar, sim, e as gags que melhor funcionam são aquelas que abordam sua iniciação. Em uma delas Andy não sabe pôr a camisinha e, quando a desenrola no braço, brinca de luva de Aquaman.

A essas referências pop se soma a discussão do comportamento amoroso. Prós e contras do sexo, do casamento, do sexo fora do casamento, do amor e da desilusão pontuam toda a nova epopéia de Andy - com ilustrações dos desencontros de seus três amigos. Basicamente de baixo calão, essa faceta do filme também rende uma piada ótima, mais intelectual: o virgem entra numa livraria e consegue xavecar a atendente gostosa só repetindo com cara de enigma o que ela diz - O senhor procura alguma coisa?, Me diga você, procura alguma coisa?. Andy não sabia que essa coisa de flerte era tão fácil.

O virgem de 40 anos, assim, acaba rendendo um par de boas piadas. Carell se entrega ao personagem com a determinação de quem oferece o peito cabeludo à depilação com cera. O problema é preencher duas horas de película. Começa a repetir-se demais, com todo tipo de sotaque possível, o humor de palavrões, essa vertente bem estadunidense de fazer rir. E, principalmente, começa-se a levar a sério demais o fundo dramático da história. Falta ao estreante Apatow mão mais firme. Falta descobrir que neste gênero o importante é colar uma gag na outra, como Zuckers ou os Farrellys em início de carreira faziam, para encobrir as obviedades da trama. O virgem de 40 anos não apenas se abre aos clichês da comédia romântica como acredita neles, o que é pior.

Nota do Crítico
Bom