Baseado na série de livros escrita por Patricia Highsmith, O retorno do talentoso Ripley (Ripley´s Game), é uma seqüência descontinuada de O talentoso Ripley (The talented Mr. Ripley, de Anthony Minghella - 1999). Apesar de ter o mesmo personagem principal, Tom Ripley, as interpretações de Matt Damon e John Malkovich são tão distintas quanto os tons de seus filmes.

Se no primeiro, Ripley é um cara que está aprendendo a mentir, dar golpes e viver bem, agora ele é um milionário que vive numa linda mansão num pequeno vilarejo italiano. Mas, como muitos dizem, dinheiro não compra classe. Em uma festa, o inglês Jonathan Trevanny (Dougray Scott) diz mais ou menos isso sobre o Sr. Ripley, que acaba ouvindo e começa a maquinar uma forma de se vingar.

Sua chance surge quando ele descobre que Trevanny é um doente em estado terminal e que quer a qualquer custo juntar dinheiro para sua esposa e filho. Tudo se encaixa quando Reeves (Ray Winstone), ex-protégé de Ripley, vai à mansão de seu mentor pedir para que ele mate um chefe da máfia russa que está atrapalhando seus negócios. Maquiavélico, o americano sugere que Jonathan fará o trabalho, desde que seja bem pago. Começa então uma série de eventos que culminarão em algo que nem a mente de Ripley imaginaria.

É melhor ser um vilão ou um anti-herói?

Em uma conversa com John Malkovich, ele me disse que realmente havia sido chamado para viver o Duende Verde, no primeiro filme do Homem-Aranha (Spider-man, de Sam Raimi - 2002) , mas que não gostou da oferta e que como na mesma época começariam as filmagens de O retorno do talentoso Ripley, ele preferiu ficar com o segundo. É uma escolha que poucas pessoas fariam. Financeiramente, com certeza, foi bem menos vantajosa, mas faz todo o sentido se você olhar sua carreira, pontuada com filmes com um viés mais artístico do que os blockbusters.

Seu Ripley é mais cínico que o interpretado por Damon e, na verdade, é difícil compará-los pois os dois filmes são bastante diferentes. As lindas imagens colhidas por Minghella em Roma e Veneza não se comparam em escala à pequena vila, também muito bem fotografada pela diretora e roteirista Liliana Cavani, mas demonstram a diferença nos orçamentos.

Se o inesperado dava o tom no primeiro filme, este funciona mais como um filme de suspense mais convencional - com começo, meio, clímax e fim. Como Tom não tem mais que ficar puxando o saco do playboy Dickie Greenleaf (Jude Law), o jazz que marcou a primeira aventura de Ripley foi substituído por uma trilha sonora feita pelo maestro Ennio Moricone.

Levando-se em consideração que o vilão de Homem-Aranha foi um dos pontos fracos da adaptação das aventuras do aracnídeo para a telona, é possível dizer que Malkovich agiu de forma fria e calculada. Como Tom Ripley diz no filme Sabe o que é interessante sobre fazer algo terrível? É que depois de alguns dias, você nem se lembra do que fez... mas no cinema, os fãs se lembram. Boa escolha, Sr. Tom Malkovich.