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Crítica

O Chamado | Crítica

Raro suspense não precisa se apoiar em violência explícita para criar impacto

30.01.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Zapeando os canais abertos da TV outra noite, acabei me deparando com um espetáculo, no mínimo, surreal. Um funkeiro qualquer comandava uma bizarra dançarina enquanto cantava vai Lacraia, vai Lacraia, vai Lacraia, a fim de que ela rebolasse freneticamente. Pra completar, ao lado, a filha da Gretchen copiava os movimentos da figura. A imagem foi tão esdrúxula que permaneceu grudada no papel de parede da minha mente durante alguns dias, garantindo, sem dúvida, a morte em agonia de alguns dos meus neurônios.

Todo mundo já passou por isso alguma vez na vida... desejar não ter visto alguma coisa a que assistimos na televisão. Uma vontade de voltar no tempo e apagar tais imagens. Imagino que seja mais ou menos isso o que a jornalista Rachel (Naomi Watts, de Cidade dos sonhos) tenha sentido em O chamado (The Ring, de Gore Verbinski, 2002).

A produção, uma refilmagem da fita japonesa Ringu (de Hideo Nakata, 1998) - por sua vez, uma adaptação da série de romances do Stephen King do Japão, Kôji Suzuki - começa com duas adolescentes, que conversam sobre uma nova lenda urbana... a da fita VHS que, se for vista, faz com que você receba um arrepiante telefonema. Do outro lado da linha, uma voz arranhada diz apenas sete dias e, sete dias depois, você morre.

Atraída pelo mistério, que pode render uma ótima matéria caso tenha algum fundo de verdade, a jornalista Rachel Keller começa a investigar o fenômeno. Após alguma pesquisa, ela localiza a fita e - quem é que acredita nessas lendas urbanas, afinal? - acaba assistindo. E, claro, para seu horror, o telefone toca. A partir daí, começa uma desesperada corrida para descobrir a origem da fita e quem quer que esteja por trás do mistério.

O chamado é desses raros suspenses excepcionais que, diferente da maioria das produções do gênero, não precisa se apoiar em violência explícita para criar impacto. Pelo contrário, o clima de tensão onipresente na produção garante o interesse da platéia durante toda a duração da fita. Tal atmosfera é obtida pelo trabalho competente de Bojan Bazelli (fotografia), Hans Zimmer (trilha sonora) e Gore Verbinski (direção), em perfeita sintonia, auxiliada pela ótima edição de Craig Wood. A conclusão bem amarrada também garante um gancho natural para a continuação, que já está sendo desenvolvida pela Dreamworks.

O filme surpreende até o finalzinho, um daqueles que pedem um bate-papo com os amigos pra trocar impressões, especialmente quando um deles se lembra que você também assistiu a tal fita... só que no cinema.

Mas não se preocupe. Faz mais de sete dias que assisti ao filme e continuo aqui. Só não posso dizer o mesmo dos meus neurônios, que receberam o tal chamado da Lacraia...

Nota do Crítico
Ótimo