Filmes

Crítica

O Castelo Animado | Crítica

<i>O castelo animado</i>

04.08.2005, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 21H06

O castelo animado
Hauru no ugoku shiro
Japão, 2004
Animação - 119 min

Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki, Diana Wynne Jones (livro)

Vozes no original
: Akihiro Miwa, Akio Ôtsuka, Ryunosuke Kamiki , Tatsuya Gashuin, Yo Oizumi

Sofisticado e inteligente, O castelo animado (Hauru no ugoku shiro, 2004) é mais um triunfante longa-metragem de Hayao Miyazaki, dono de um Oscar por A viagem de Chihiro e criador de clássicos como Princesa Mononoke (que permanece estupidamente inédito no Brasil), Meu amigo Totoro e Porco Rosso, entre tantos outros.

Conhecido pelas personagens femininas fortes - apesar de jovens -, fascinantes criaturas e belíssimos cenários surrealistas, Miyazaki coloca um novo e relevante elemento em O castelo animado: um manifesto contra a guerra. A industrialização desenfreada já havia sido duramente combatida no ecológico Princesa Mononoke, mas agora o cineasta japonês aponta seus holofotes criativos aos conflitos mundiais.

A crítica é realizada com o bom-humor habitual, mas com um visão um tanto mais sombria que sua produção passada, graças à seriedade do tema. Guerras em larga escala entre feiticeiros e impressionantes máquinas de destruição desfilam pela telona, mas há espaço também para o alívio cômico - seja ele um cãozinho asmático ou um garotinho disfarçado de ancião. Miyazaki faz pensar, mas também dá espaço ao sorriso.

Como se o roteiro inteligente não fosse suficiente, a produção dá também um tapa na cara de quem acredita que a animação tradicional está morta e enterrada. A computação gráfica é utilizada apenas para as cenas que seriam caras demais para serem animadas da maneira convencional, mas o grosso do filme é mesmo desenhado manualmente (e boa parte dela pelo diretor japonês de 64 anos!).

A idéia básica do filme trata de um feiticeiro errante, Howl, e sua rebeldia em deixar-se arrastar para a guerra. Mas entrelaçadas aí estão as histórias de uma jovem vítima de um feitiço de envelhecimento, a rivalidade entre duas bruxas e o destino de um pequeno, mas poderoso, demônio do fogo, Calcifer. Miyazaki desenvolve com habilidade cada um desses personagens e nos mostra todas as suas facetas, revelando corações e almas como poucos filmes - animados ou não - conseguem. Sob a batuta desse mestre a animação japonesa encontra outra vez o realismo fantástico e o surrealismo. Eventos decisivos na Segunda Guerra Mundial, como os bombardeios a Londres e Pearl Harbor, ocorrem num mundo em que Howl se esconde em um castelo com pés de galinha, por exemplo. É justamente esse poder narrativo que seduz o espectador, desejoso de conhecer as sutilezas e motivações de todos.

A história é adaptada do romance de fantasia da escritora britânica Diana Wynne Jones e foi um avassalador sucesso no Japão, onde as obras do diretor são reverenciadas e não param de se superar. Nos Estados Unidos fez apenas uma fração do que o mais estúpido dos desenhos animados costuma gerar. Algo lamentável, se considerarmos que as crianças que mais precisavam ter lições sobre humanidade e entendimento são justamente as que menos se interessam por elas. Mas é algo até fácil de ser entendido, já que mercadologicamente O castelo animado foi considerado inteligente demais para o grande público estadunidense já que, como na vida, ele não traz distinção clara entre o Bem e o Mal, entre outros aspectos que exigem atenção.

Mas antes que você pense que por aqui a coisa é muito diferente, saiba que Chihiro estreou por aqui atrás do Didi: O cupido trapalhão, As panteras detonando e até de Cruzeiro das loucas! Aparentemente, também temos muito o que aprender... Que tal ajudar a mudar esse quadro?

Nota do Crítico
Excelente!