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Nem que a Vaca Tussa | Crítica

<i>Nem que a vaca tussa</i>

08.07.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Nem que a vaca tussa
Home on the range

EUA - 2004
Animação 76 min.

Direção: Will Finn, John Sanford
Roteiro:
Will Finn, John Sanford

Vozes no original: G.W. Bailey, Roseanne, Bobby Block, Steve Buscemi, Carole Cook, Charlie Dell, Judi Dench, Charles Dennis, Marshall Efron, Joe Flaherty, Cuba Gooding Jr., Charles Haid, Estelle Harris

Chegamos ao fim de uma era. Com a estréia de Nem que a vaca tussa (Home on the Range - 2004), estamos - até segunda ordem - órfãos dos desenhos animados tradicionais da Walt Disney. Foi lá que surgiram clássicos como Branca de Neve e os sete anões (1937), Pinóquio (1940) e Bambi (1942), na chamada era de ouro, e ainda A bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e O Rei leão (1994), na retomada de interesse pelos desenhos nos anos 1990. Mas os chefes dos estúdios decidiram parar a animação quadro a quadro e investir apenas na que é feita por computação gráfica, como Toy Story, Vida de Inseto, Monstros S.A. e Procurando Nemo.

Sem se preocupar muito com este futuro incerto, a equipe da Disney liderada por Will Finn e John Sandford - estreantes como diretores de longa, mas veteranos na arte de animar desenhos - foi literalmente até o oeste dos Estados Unidos buscar inspiração para esta última empreitada. A produtora Alice Dewey Goldstone (Hércules, O Rei Leão, Aladdin) levou 12 pessoas de seu time para passar uma semana ao lado de legítimos cowboys, conduzindo uma boiada, andando a cavalo oito horas por dia, dormindo sob as estrelas e conhecendo aquele cenário que eles teriam que passar para o celulóide.

Outra inspiração visível são os velhos filmes de faroeste. Os posicionamentos de câmera retratam muito bem o espírito de clássicos de John Ford, com mais closes quando querem mostrar ambientes menores/aconchegantes e planos abertos nas longas caminhadas pelos vastos planaltos. A diferença é que os "mocinhos" são, na verdade, vacas.

Moram no rancho Pedaço do Céu, Pearl (Carole Cook) e seus animais. Ela é uma daquelas vovózinhas que trata os animais como filhos e por isso seria incapaz de transformar seus porcos em bacon, ou as vacas em hambúrguer. Depois de mais um enorme roubo de gado numa fazenda próxima ao rancho, o vaqueiro lesado deixa com a velhinha o único animal que lhe sobrou: Maggie (voz de Roseanne Barr), uma vaca leiteira ganhadora de vários prêmios. Quando ela chega, logo se torna popular com os outros bichos, exceto com Caloway (Judy Dench), uma vaca inglesa e cheia de pose que costumava comandar o pedaço. Quem vai colocar panos quentes na turbulenta relação das duas é Grace (Jennifer Tilly).

As coisas pioram ainda mais quando Pearl recebe uma intimação para pagar um empréstimo de $ 750 que vence nos próximos dias, ou o Pedaço do Céu será leiloado. A novata Maggie decide arregaçar as mangas e ir atrás do dinheiro. Gracie resolve ir junto. Caloway acha aquilo uma perda de tempo, mas acaba cedendo. Na cidade, o trio vai arrumar confusão no saloon e reencontrar Buck (Cuba Gooding Jr.), o cavalo megalomaníaco do xerife, que afirma que não pode fazer nada para ajudá-las. É neste momento que chega Rico (Charles Dennis), o melhor caçador de recompensas da região. O único bandido procurado que ele ainda não capturou é Slim (Randy Quaid), o ladrão de cabeças de gado que vem fazendo a rapa nos arredores. O prêmio: $ 750. E lá vão, as três vacas, Buck e Rico tentar prendê-lo.

O roteiro segue o padrão Disney, com momentos de cantoria, dúvidas sobre o que seria a coisa certa a se fazer, uma emocionante corrida contra o tempo e até algumas piadinhas que as crianças não vão entender. Deixando o preconceito de lado, dá para dar umas boas risadinhas.

As vacas foram para o brejo

Com animais falantes, um traço mais caricatural e palete mais viva e forte do que a usual cor de terra, alguns amantes dos westerns podem ficar com o pé atrás, mas a trilha sonora escrita por Menken e Slater é ótima e se encarrega de posicionar o espectador no velho oeste. Infelizmente, não tive a chance de ver também a versão dublada em português para comparar, mas a Disney costuma desenvolver bons trabalhos de tradução também nas músicas. É possível dizer que com a tradição que a casa do Mickey tem em emplacar indicações ao Oscar de Melhor Canção, uma das faixas deve ser cantada na cerimônia do ano que vem no Kodak Theater.

Pena que nem a música country e o tema dos westerns, bastante populares nos Estados Unidos conseguiram motivar os norte-americanos a irem ao cinema. Apesar de uma estréia boa, Nem que a vaca tussa foi perdendo rapidamente poder nas bilheterias e não chegou nem aos 50 milhões de dólares, que corresponderiam a menos da metade dos 110 milhões de dólares de custo. Não é de se espantar que a Disney tenha cancelado os desenhos animados, que vêm dando prejuízo, em favor das animações computadorizadas, que só quebram recordes em cima de recordes.

Mas este aparente desinteresse atual pela animação tradicional não vai matar o gênero. Assim como o western nunca vai morrer, os desenhos animados feitos quadro a quadro hão de resistir e um dia voltar. Nem que para isso, vacas tenham que tossir.

Nota do Crítico
Bom