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Looney Tunes de Volta à Ação | Crítica

<i>Looney Tunes de volta à ação</i>

04.12.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Looney Tunes de volta à ação
Looney tunes back in action

EUA, 2003 - 105 min.
Comédia

Direção: Joe Dante
Roteiro: Larry Doyle

Elenco: Brendan Fraser, Jenna Elfman, Steve Martin, Timothy Dalton, Heather Locklear, Joan Cusack

Pokémons da calça quadrada, iu-guir-rôs, peixes-palhaços, anjinhos, monstrinhos, meninas superpoderosas. A atual concorrência nos desenhos animados dificulta cada vez mais a vida dos cinquentenários personagens da Warner, aquele estúdio da caixa-dágua.

Antes de qualquer coisa, Looney Tunes - De volta à ação (Looney Tunes: Back in action , 2003) é o resultado inconstante e conturbado dessa busca por uma nova identidade, uma nova identificação com o público dissipado, fragmentado.

Na trama, o dono das empresas ACME (interpretado por Steve Martin, no limite entre o humor inofensivo e a caricatura irritante) procura uma jóia com poderes sobrenaturais, capaz de transformar homens em macacos, e vice-versa. Com ela, claro, o vilão pretende dominar o mundo.

Para impedi-lo, Patolino e o aprendiz de dublê DJ (Brendan Fraser), recém-demitidos da Warner, vasculham Las Vegas, Paris e África atrás da tal pedra. E como uma missão difícil pede reforço total, Pernalonga convence Kate (Jenna Elfman), a executiva do estúdio responsável pelas demissões, a ajudá-los na aventura.

Muito mudou, mas nada mudou

A fórmula é a mesma de Space Jam - O jogo do século (Space Jam, de Joe Pytka, 1996): misturar animação com atores de carne e osso. Mas, hoje em dia, a já citada necessidade de reinventar a marca Looney Tunes se impõe sobre o roteiro - é preciso conquistar mais fãs, qualquer tipo de fã, e provar aos seguidores habituais que os personagens podem se atualizar, serem cool e bacanas novamente.

Dois reflexos maléficos são sentidos na tela. Primeiro, ao tentar agradar os pequenos e os crescidos ao mesmo tempo, o filme periga desagradar as duas partes. As crianças não entendem as piadas elaboradas (como aquela que coloca Roger Corman, rei do trash, dirigindo um filme de Batman) e os adultos se aborrecem com situações infantilizadas demais.

O segundo reflexo diz respeito à atualização dos personagens. Aparentemente, a idéia que os roteiristas têm de cool é colocar os personagens conversando diretamente com o público. Pode parecer bem sacado, mas a tendência é que isso prejudique a imaginação, a relação do espectador com a história que está sendo contada.

Para demonstrar esse ponto, vamos pegar o exemplo que salta melhor da tela. Hortelino Troca-Letras persegue o pato e o coelho no museu Louvre, em Paris. Os personagens entram e saem de alguns dos quadros mais célebres do mundo. O resultado, além de inteligente, é deslumbrante: as orelhas do Pernalonga derretem como os relógios surrealistas de Salvador Dali (1904-1989), Hortelino faz a pose clássica do grito na tela expressionista de Edvard Munch (1863-1944) e Patolino se desmancha dentro do pontilhismo de Georges Seurat (1859-1891), em seu quadro mais famoso, Un Dimanche dété à la Grande-Jatte.

O grande problema é que, ao fim da sequência, o coelho solta a frase: "Cinema também serve para ensinar alguma coisa, não é mesmo?". Pronto. Mata-se a magia quando a imagem começava a nos envolver, e voltamos à necessidade dos velhos personagens parecerem forçadamente espertalhões.

Toda essa elucubração poderia ser reduzida a uma constatação: não há no roteiro a intenção de se contar uma história. Na verdade, todos os elementos inseridos no script obedecem a uma lógica calculada de persuasão. Você gosta de perseguições? Existem duas, uma de carros e outrade espaçonaves. Você gosta de mulheres curvilíneas? Pois não apenas Jenna Elfman veste modelitos apertados como Heather ‘Melrose Locklear surge por cinco minutos dentro de um macacão de vinil. E por aí vai.

Com intenções tão desonestamente mercadológicas espalhadas pelo roteiro, resta apenas ao diretor Joe Dante exercitar a sua inventividade visual em alguns poucos bons momentos, inspirados na ficção científica. E olha que Dante, diretor da série Gremlins, não costuma errar a mão neste assunto. Mais um ponto em que fins comerciais derrotam a arte. O novo Looney Tunes diverte, mas teria potencial para muito mais.