O Castelo Rá-Tim-Bum estreou em 1995 e teve 90 episódios produzidos, que continuam sendo reprisados até hoje. O programa foi recorde de audiência para a TV Cultura, com nove pontos de média e picos de quatrorze, e ganhou, em 1999, uma adaptação para as telas por Cao Hamburguer.
Tamanho sucesso encorajou a emissora a lançar uma continuação para o seriado.
Corajosa, a série Ilha Rá-Tim-Bum, que começou em julho de 2002, mudou o foco do programa anterior, buscando atingir também o público pré-adolescente, bem mais exigente e acostumado com seriados japoneses e desenhos animados frenéticos. Com requintes de superprodução, o novo projeto não aproveitou nenhuma das consagradas personagens e situações de Rá-Tim-Bum ou Castelo Rá-Tim-Bum, preferindo apostar em uma idéia totalmente nova, uma ilha mágica, perdida no meio do oceano e habitada por fascinantes criaturas.
O resultado de audiência foi decepcionante, uma média apenas um pouco superior à obtida pelas atuais reprises do Castelo.
Entretanto, Ilha Rá-Tim-Bum também seguiu os passos de seu antecessor e virou longa-metragem. Dirigido por Eliana Fonseca, a película teve produção de apenas quatro meses de duração e foi rodado em sistema digital de Alta Definição (HD) em apenas trinta dias. Alardeado como a produção nacional com o maior número de efeitos especiais de todos os tempos, o filme tem recursos digitais em aproximadamente 30% das cenas.
A trama, de fácil entendimento pelos espectadores que nunca assistiram ao seriado, mostra os jovens Gigante (Paulo Nigro), Rouxinol (Greta Eleftheriou), Majestade (Thuanny Costa), Micróbio (Rafael Chagas) e Raio (Abayomi de Oliveira) numa ilha desconhecida, onde reina o malvado Nefasto (Ernani Moraes), um homem-bactéria criado num acidente científico. Lá terão que encontrar antes das forças do mal o martelo pertencente ao deus Vulcano, que confere ao seu portador poderes incríveis. O artefato está sob a guarda da egípcia Hipácia (Graziela Moretto).
Completam o elenco Luciano Gatti (Zabumba - o zangão-homem), Bárbara Paz (Polca - a libélula-mulher), Henrique Stroeter (o lagarto Solek) e Ângela Dip (a mulher-aranha Nhã-nhã-nhã).
O resultado da produção é mediano. O orçamento foi bastante inferior ao aplicado no longa-metragem do Castelo Rá-Tim-Bum e a falta de recursos é particularmente visível nos cenários - falsos demais - e na maquiagem. O visual do Nefasto, por exemplo, parece diferente a cada aparição.
Tais defeitos são compensados pelos efeitos especiais por computação gráfica, bem integrados ao cenário e às personagens. Vale destacar a produção de uma árvore, com raízes e galhos imitando uma cobra coral. Bem-feita, a criação digital interage com as crianças e é até mais interessante do que o salgueiro-lutador de Harry Potter e a câmara secreta. Infelizmente, aparece pouquíssimos segundos na tela.
Ironicamente, é justamente a preocupação excessiva com a qualidade dos efeitos que parece ter desviado o foco dos produtores para o que realmente importa: uma boa história. Nenhuma das personagens é explorada direito e as reviravoltas na trama parecem meras desculpas para mostrar um novo recurso visual. Todavia, tal descuido pode ser considerado parte do aprendizado do gênero. Não se faz um O Senhor dos Anéis sem ter feito um Godzilla antes.
E o cinema brasileiro aprende rápido.