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Good Night, and Good Luck | Crítica

<i>Good night, and good luck</i> - Mostra de SP

21.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 10.02.2017, ÀS 23H03

Good night, and good luck
EUA, 2005
Drama - 93 min

Direção: George Clooney
Roteiro: George Clooney, Grant Heslov

Elenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels,
George Clooney, Tate Donovan, Thomas McCarthy, Matt Ross

Discutir o recebimento de iPods em troca de boas matérias jornalísticas [nota dos editores: o crítico refere-se a uma acalorada discussão recente na mídia brasileira, depois que a revista Veja erroneamente acusou jornalistas e veículos de falarem bem do segundo disco da Maria Rita apenas porque receberam o player de música digital da Apple] não é nada perto dos perturbadores meandros desse pedaço mal contado da história norte-americana. Sem dúvida, Good Night, and Good Luck (2005), drama dirigido por George Clooney, é um dos mais impressionantes filmes da temporada. O alto contraste de seu preto-e-branco já indicam cromaticamente os percursos dilemáticos que a película segue. O clima expressionista de film noir indica apenas um efeito contraditório em relação a um argumento quase documental.

Em pleno macarthismo, o âncora de TV Edward R. Morrow (David Strathairn) e sua equipe de repórteres desafiam os poderes estabelecidos apenas por lutarem para apresentar os dois lados da questão. Morrow revela as mentiras e as táticas usadas pelo senador Joseph McCarthy em sua "caça às bruxas" contra supostos comunistas. Um grande confronto público se desenvolve a partir do momento em que McCarthy, ao invés de usar o direito de resposta oferecido por Morrow, procura intimidá-lo, acusando-o de também ser comunista. O conflito ocorreu nos anos 1950, quando a televisão estava em seu início e os jornalistas da CBS, em início de carreira, não tinham ainda a força que adquiririam nos anos seguintes.

Good Night não deixa de ser traiçoeiro. A preocupação estética de George Clooney, procurando resgatar os detalhes de figurino da época, o cigarro no canto da boca e o tom esfumaçado dos bastidores da notícia, sugere que se trata de um filme meramente performático. Há um rigor formal em manter a beleza das luzes e dos espaços. Mas não. O filme tem sua maior força nos diálogos e não nos efeitos. O destrinchamento discursivo é de uma riqueza admirável para um relativo novato atrás das câmeras. Amortecido pelos tons bicolores e pelo fog dos ambientes, parece que o espectador atordoado entra num filete da história dos Estados Unidos anti-comunista, tendo a rispidez da palavra como seu cotonete pra ficar atento ao jogo de poder e influência. Nada mais contrastante do que a brilhantina pra reluzir as aparências e realçar os contornos negros de verdades ofuscadas pela própria mídia loba da mídia.

Érico Fuks é editor do site cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Excelente!