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Misturar drama romântico com Ficção Científica pode parecer incoerente à primeira vista, mas essa mistura já rendeu ótimos filmes como Tycho Moon e Os Doze Macacos (além do brilhante curta-metragem La Jetée em que este se baseou). Dogma do Amor, porém, resulta no que habitualmente se imagina desta mistura: Uma bagunça inassistível.
É o ano de 2021 e o mundo está um caos. Pessoas estão literalmente caindo mortas devido à solidão e falta de amor. O mundo está congelando, em Uganda a gravidade está falhando repentinamente. No meio de toda essa confusão, John (Joaquin Phoenix, totalmente inexpressivo) vai até Nova York encontrar sua mulher, a famosa patinadora Elena (Claire Danes, bela como uma escultura grega e demonstrando similar talento dramático), de quem está se divorciando. A vida da mulher é controlada por seus familiares (cuja renda depende do talento da moça...), mas ela ainda ama seu marido e os dois acabam decidindo manter seu relacionamento, apesar de não terem nenhuma capacidade mental para isso.
Embora o diretor Thomas Vinterberg seja um dos criadores do movimento Dogma 95, o filme não segue essa filosofia. O que é uma pena, pois talvez assim tivesse dispensado os momentos gratuitos de ficção científica e se concentrado na história. O título em inglês (que significa "É tudo a respeito do amor") é bem mais honesto a respeito das intenções do filme e sua versão brasileira não passa de um oportunismo da distribuidora local.
E assim chegamos ao segundo problema da fita: o romance entre os personagens. A relação entre os dois protagonistas não desperta o menor interesse, simplesmente porque ele são os personagens menos interessantes da história. De longe! Eles não são apenas joguetes do destino, eles praticamente não tomam nenhuma atitude (nem sequer reclamam!) para mudar sua situação infeliz. E quando o fazem, são de uma estupidez inacreditável.
Um exemplo? Bom, em que filme, fora os terrores adolescentes descerebrados estilo Freddie Krueger ou Jason , você veria uma mulher adulta que está assustada e preocupada com sua segurança atender a uma batida na porta, perceber que não tem ninguém lá e voltar para dentro DEIXANDO A PORTA ESCANCARADA!? Pois bem, isto acontece neste filme! Pena que Freddie não estava esperando atrás da porta para matar a mulher e poupar o espectador do sofrimento que o resto do filme o proporcionará...
Com personagens assim, não é de se admirar que os atores principais façam as piores interpretações de suas carreiras. Phoenix está tão inerte que deixa dúvidas se teria feito o filme acordado ou dormindo. Danes ainda consegue mostrar uma nesga de talento ao interpretar outras personagens (ela tem diversos papéis no filme, cortesia do roteiro absurdo), mas poderia ter sido substituída por um manequim no papel da protagonista. Não que o papel exigisse mais do que isso, claro!
E já que falamos no roteiro, ele é absurdamente primário e pretensioso. Um dramalhão manjado com uma camada de verniz de ficção científica aplicada por cima para tentar valorizá-lo. Mais ou menos como uma pintura nova em um carro usado, a diferença é que, no caso do filme, a tinta utilizada foi de má qualidade e só conseguiu estragar ainda mais o produto. Aliás é difícil dizer qual foi a intenção do diretor ao usar os elementos de ficção científica. Estaria ele usando os protagonistas como um exemplo de como amor estaria desaparecendo no seu mundo? As calamidades naturais seriam uma reflexão do caos da vida dos personagens? Provavelmente nunca saberemos.
O que levaria uma distribuidora a trazer um filme sem qualquer característica redentora como este enquanto obras muito superiores como o anime Metrópolis ou a série de comédias francesa Táxi nunca foram lançados nos nossos cinemas? O potencial comercial de Dogma do amor está tão abaixo de zero quanto a temperatura do planeta na história. A crítica estrangeira o destruiu, o que é plenamente justificável, diga-se de passagem. Ele provavelmente será uma nota de pé de página na biografia de todos os envolvidos.