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Crítica

Cinzas da Guerra | Crítica

Faltou uma dose de esperança

É"
05.04.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Pegue A Vida é Bela (La vita è bella, de Roberto Benigni - 1997), a produção italiana vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998, e faça aquilo que a crítica da época pediu: tire toda a comédia. Afinal, é feio fazer piadas sobre campos de concentração, uma mancha na história da humanidade, como Hollywood vem nos mostrando há anos. Pronto, o resultado desta subtração é Cinzas da guerra (The grey zone, de Tim Blake Nelson - 2001).

Aqueles que saíram com o estômago revoltado de A Lista de Schindler (The Schindlers list, de Steven Spielberg - 1993) não devem chegar muito perto da entrada do cinema. O novo filme de Tim Blake Nelson (nem tão novo, pois chega ao Brasil com dois anos de atraso) retrata com detalhes toda a crueldade praticada pelos nazistas no campo de Auschwitz durante a II Guerra Mundial, desde os dilemas morais vividos pelos prisioneiros obrigados a ajudarem na matança de seus colegas até as pilhas de cadáveres nus sendo jogados na fornalha.

Quem fez

Você conhece Tim Blake Nelson. Ele é aquele loiro abobalhado de E aí, meu irmão, cadê você? (O brother, were art thou?, dos irmãos Joel e Ethan Cohen - 2000) e o chapado de Por um sentido na vida (Good girl, de Miguel Arteta - 2002). Os papéis de bobo não revelam um ótimo diretor: aclamado pelo drama O Olho de Deus (Eye of God, 1997), Nelson já dirigiu outros dois filmes, Kansas (1998) e O (2001 - o único que não roteirizou), ambos inéditos no Brasil. No novo filme, queria contar a história de sua família judia, que veio para os Estados Unidos refugiando-se da guerra, mas preferiu adaptar o livro Auschwitz: a Doctor?s Eyewitness Account, do médico húngaro Miklos Nyiszli.

Nyiszli, judeu, foi um prisioneiro com privilégios em Auschwitz. Era protegido dos guardas por estar ajudando o dr. Josef Mengele, médico do Reich, nas terríveis pesquisas que este conduziu com os judeus. No livro, ele retrata a situação dos Sonderkommandos - esquadrões especiais de judeus que tinham a tarefa de levar prisioneiros para as câmaras de gás e depois jogar os corpos nas fornalhas, em troca de mais alguns meses de vida.

Trair a sua própria gente em troca de uma vida incerta como prisioneiro? O dilema moral resolve-se quando membros do esquadrão começam a planejar uma revolta, a única registrada entre os campos de concentração durante a Guerra. E uma criança que milagrosamente sobreviveu à câmara de gás lhes serve como símbolo de esperança para levar o plano à frente.

Mas Nelson não sucumbe a finais felizes e a "adaptações" de fatos verídicos. A atmosfera do filme é negra, com um belo trabalho de fotografia retratando cenas cruéis e sujas. A trilha sonora é opressiva, dura, captando o espírito de desesperança dos prisioneiros. Rende atuações apenas médias de David Arquette (Pânico, Malditas Aranhas!), Steve Buscemi (Cães de Aluguel, Spy Kids 2) e Mira Sorvino (Poderosa Afrodite) e inclusive do desaparecido Harvey Keitel (Pulp Fiction, Dragão Vermelho), que interpreta um coronel nazista caricato.

É complicado fazer um filme interessante com um tema tão duro e ainda optando por uma atmosfera contundente como esta. Tim Blake Nelson não consegue. Embora a produção seja bem cuidada, o filme torna-se entediante e sem sentido por falta de ritmo no roteiro e na direção. Sua grande falha, porém, é não apresentar ao público um único momento de esperança. E em um campo de concentração isso era o máximo que os prisioneiros podiam ter.

Nota do Crítico

Bom
Érico "Orph" Assis

Cinzas da Guerra

The Grey Zone

2002
108 min
Drama
País: EUA
Classificação: 16 anos