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Ameaça Invisível | Crítica

<i>Ameaça invisível</i>

01.09.2005, às 00H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 14H02

Ameaça Invisível
Stealth
EUA, 2005
Ação - 107 min

Direção: Rob Cohen
Roteiro: Rob Cohen, W.D. Richter

Elenco
: Josh Lucas, Jessica Biel, Jamie Foxx, Sam Shepard, Joe Morton, Richard Roxburgh, Ian Bliss, Megan Gale, Ebon Moss-Bachrach

Rob Cohen quer ser Tony Scott, mas deve chegar, no máximo, a Michael Bay.

Responsável por foguetórios descartáveis como Velozes e furiosos (2001) e Triplo X (2002), o carequinha Cohen, de 56 anos, viu o sucesso chegar tarde na sua longa carreira de produtor e diretor. Agora, tenta tirar o atraso com o pretensioso Stealth - Ameaça invisível (2005) - filhote do universo de Top Gun, de Scott. Um crítico do Dallas Morning News, Chris Vognar, deu a definição certa, ainda que um tanto boazinha: "É o filme estúpido mais inteligente do verão".

Por "inteligente" entenda o esforço de transmitir uma mensagem em meio à balbúrdia dos efeitos especiais. Na trama, Ben Gannon (Josh Lucas, de Hulk e Contra corrente), Kara Wade (Jessica Biel, de Blade: Trinity) e Henry Purcell (Jamie Foxx, antes do sucesso e do Oscar por Ray) formam a trinca de ases da Marinha dos EUA. Comandados pelo Capitão George Cummings (Sam Shepard), executam suas missões com perfeição, como uma verdadeira equipe de aviadores.

Acontece que o capitão tem um projeto, escudado por políticos em Washington, de substituir os pilotos por máquinas. E Cummings não demora para apresentar os três ao seu novo parceiro de vôos: o UCAV (de Unmanned Combat Aerial Vehicle) EDI (de Extreme Deep Invader), em fase de testes. O jato invisível que se auto-pilota deixa Purcell animado, Kara curiosa e Gannon desconfiado. Ok, baixas humanas serão diminuídas, famílias estadunidenses serão poupadas de más notícias, mas o futuro da guerra tecnológica pode ser deixado na mão de EDI?

Como ficam as decisões morais, tipo calcular vítimas numa caçada a terroristas? E os sentimentos humanos que só os pilotos possuem? Essa lenga-lenga sentimental é a tal mensagem que Stealth tenta passar - principalmente a partir do momento que EDI, como toda máquina de ficção, surta vilanescamente, arriscando a vida de todos. Claro, numa época em que os soldados dos EUA não vêem a hora de parar de morrer no Iraque, não dava mesmo para louvar os burocratas do Pentágono com seus gastos em tecnologia. Então vamos de discurso positivo enaltecendo as tropas, essa massa patriótica que se emociona em continência à bandeira.

Cavalo-de-pau

Com Cohen no comando, essa propaganda toda beira o kitsch. Como quando os três oficiais, com aquele uniforme todo branco, mais o quepe, se destacam feito faroleiros na multidão "normal" de uma danceteria. Ou como quando Purcell, num campo de mata alta, filmado em travelling do chão ao céu, discursa para uma tailandesa sobre as belezas da natureza. Ou então quando Gannon se esquiva de Kara para esconder seu amor, que pode prejudicar a carreira dos dois. Legítima clicheria, Stealth é isso: um apanhado de pérolas trash. Citar uma ou outra é divertido, assistir a todas juntas é insuportável.

Não dá para aguentar, principalmente, porque o diretor tenta tapar com firulas de câmera todos os buracos da trama. Daí aparece o lado discípulo de Michael Bay - explosões, motores zunindo, o vilão que antes de morrer escuta a rancorosa frase feita do mocinho. Cohen ainda acha que está filmando Mitsubishis tunados. Os cavalos-de-pau que seus aviões dão lembram aquelas cenas de Top Gang (1991), com freadas no ar e tudo.

Falando em Top, vale relembrar o filme que marcou a carreira de Tom Cruise em 1986 - e compará-lo com Stealth. Existe uma regra cinematográfica trivial que qualquer fotógrafo mediano conhece: perspectiva. É incrível como o desprezo de Cohen pela perspectiva é inversamente proporcional ao bom uso que dela faz o diretor Scott. Essencialmente, quando enfocam os pilotos em combate. O Maverick de Cruise e seus companheiros são filmados de dentro do cockpit , e quando observam os Migs russos a câmera se mexe veloz como se fossem seus olhos. É a perspectiva em primeira-pessoa. No caso de Stealth, repare, Cohen só usa zooms, de fora pra dentro, sem entrar nos cockpits (e quando entra quase sempre é em terceira-pessoa).

Filmes de ação, hoje, são muito semelhantes a videogames. E qualquer fã de Doom ou Quake sabe que o apelo dramático é muito mais intenso nos jogos de tiro em primeira-pessoa, quando se sente virtualmente na carne um golpe recebido. Se tivesse um mínimo de teoria de cinema, Cohen deveria saber que filma errado, mesmo porque sua obra tem como tema a humanidade dos pilotos. No fundo ele coisifica os personagens. E bem lá no fundo, ele só gosta mesmo é da artilharia.

Nota do Crítico
Regular