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A Hora da Escuridão | Crítica

Que saudade da Guerra Fria

12.01.2012, às 23H10.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H33

Boa mesmo era a Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética só conversavam por aqueles telefones vermelhos em casos de emergência. Hoje a ex-URSS está plenamente inserida no livre mercado, monopolizando o futebol inglês, negociando seu arsenal enferrujado no Oriente Médio e - em parceria com a sempre voluntariosa Hollywood - fazendo filmes como A Hora da Escuridão (The Darkest Hour).

a hora da escuridão

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O russo Timur Bekmambetov (O Procurado, Guardiões da Noite) produz o filme, que tem roteiristas e elenco principal hollywoodiano, com Chris Gorak, egresso de departamentos de arte de filmes como Clube da Luta e Minority Report, estreando como diretor. A Hora da Escuridão trata de uma invasão de alienígenas aparentemente elétricos e invisíveis que acompanhamos em Moscou. Mais do que isso, o filme mostra que o futuro de Gorak não é muito promissor, mancha o currículo do protagonista Emile Hirsch e coloca em questão o julgamento das distribuidoras que compraram essa produção da Summit e, em sã consciência, lançá-la-iam direto em DVD. O que dizer?

Fica difícil embasar argumentos diante de um produto que não consegue fazer sequer o feijão com arroz dos filmes ruins. Suas atrizes-bibelôs inexistem (não são voluptuosas), seu vilão inexiste (na maior parte do tempo parece um efeito de mormaço), a ação inexiste (o roteiro arma para colocar as elipses justo onde estaria a ação, então não vemos aviões caindo, o caos tomando conta, nada). Desse jeito, deve realmente ser um pechincha fazer um filme como A Hora da Escuridão. Aliás, efeito visual mais barato só o vilão-vento de Fim dos Tempos (também da Fox e infinitamente melhor que A Hora da Escuridão).

A única coisa que dá pra aproveitar do filme é involuntária: a imagem que se faz da Rússia. Todo produto cultural, mesmo os teoricamente descerebrados, como os enlatados americanos, formam de alguma maneira um juízo sobre uma realidade específica - e com A Hora da Escuridão não é diferente.

A princípio, parece paradoxal que um filme produzido e rodado na Rússia crie um retrato tão prejudicial do país. No início da trama, Hirsch faz um gênio de Internet que tenta negociar um site em Moscou e é enganado pelo vigarista vivido por Joel Kinnaman - que, diante da perplexidade do jovem empreendedor dos EUA, solta a única resposta possível: "This is Russia!". Essa ideia de que tudo em Moscou está errado beira o cômico na cena em que acaba a luz na boate e um dos personagens solta "Aahh, Moscou...", como se corte de energia fosse uma exclusividade da cidade.

Mais adiante, porém, A Hora da Escuridão vira um elogio de outra Rússia - não o país dos mafiosos bem vestidos e das boates, mas a ex-Rússia dos soviéticos, orgulhosa de seu arsenal, seus submarinos nucleares, seus soldados de sotaque carregado, seus lança-foguetes e suas "boas e velhas balas russas". Tudo continua muito cômico (tem um cara que anda com um fone de ouvido, embora aparelhos eletrônicos não funcionem), mas o triunfalismo consterna. Quem tem mais saudade da Guerra Fria, no fim das contas, parece ser o filme.

Felizmente o perigo nuclear hoje não é mais o mesmo. A única ameaça imediata é alguém decidir que merecemos A Hora da Escuridão 2.

A Hora da Escuridão | Trailer legendado
A Hora da Escuridão | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ruim