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Crítica

Quantumania dispensa fan service fútil e foca em diversão autocontida

Grandioso, novo Homem-Formiga e a Vespa tem na pouca ligação com o MCU seu maior trunfo

14.02.2023, às 14H00.
Atualizada em 16.02.2023, ÀS 10H15

Dentro das várias subfranquias do MCU, Homem-Formiga sempre foi a que melhor se saiu contando histórias à parte. As produções comandadas por Peyton Reed podem não ter arrecadado tantos milhões quanto alguns títulos “maiores”, mas sempre cumpriram sua missão de entreter e, no máximo, deixar uma ou outra ponta a ser puxada por eventuais crossovers. Embora bem mais grandioso que seus antecessores, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania mantém esse espírito autocontido vivo, preterindo a chuva de easter eggs típicas das produções do Marvel Studios para contar uma história com identidade e coração próprios.

Seguindo os passos dos primeiros dois filmes, Quantumania acerta ao se apoiar no carisma de seu elenco. Enquanto Paul Rudd é o destaque óbvio, conquistando o público com a facilidade com que domina drama e comédia em várias cenas, Michael Douglas e Michelle Pfeiffer conseguem imprimir maior personalidade a Hank e Janet, respectivamente, dando aos personagens o brilho que faltou em 2018. Recém-adicionada à franquia, Kathryn Newton rapidamente cava seu espaço ao mostrar uma química incrível com Rudd, com quem divide a maior parte de suas cenas.

Mesmo que não seja afetado por grandes buracos, o roteiro assinado por Jeff Loveness tem alguns problemas para equilibrar o enorme leque de personagens e acontecimentos que se propõe a acompanhar. Focado na relação de Scott (Rudd) e Cassie (Newton) e na ameaça que Kang (Jonathan Majors) representa para o multiverso, o script joga alguns de seus personagens para escanteio, fazendo com que a própria Vespa vivida por Evangeline Lilly se torne pouco mais do que uma participação especial em seu próprio filme. Mesmo M.O.D.O.K., antagonista secundário e cuja estreia no MCU tem sido muito aguardada pelos fãs, é reduzido a mero alívio cômico minutos depois de sua primeira aparição.

A falha de Reed e Loveness na participação de Hope é compensada, no entanto, na construção de Kang. Interpretado de forma ameaçadora por Majors, o novo vilão do MCU chega deixando sua marca e, de certa forma, apagando o gosto amargo deixado pela monótona aparição d’Aquele Que Permanece ao final de Loki. Dominando Quantumania de forma aterrorizante, O Conquistador tende a ser uma aposta certeira de Kevin Feige na sucessão de Thanos. O confronto final entre o antagonista e os heróis, inclusive, é um dos mais impactantes desde que o Titã Louco estalou os dedos em Vingadores: Guerra Infinita.

Vícios e virtudes

Passando-se completamente no Reino Quântico, o universo paralelo ao espaço-tempo introduzido em Homem-Formiga e a Vespa, Quantumania tem um dos visuais mais inspirados do MCU em muito tempo. Sem vergonha nenhuma de suas origens nos gibis, o longa entrega criaturas e cenários coloridos, em um dos melhores usos de computação gráfica que a franquia teve desde que começou a produzir filmes e séries em massa.

Além de voltar a contar com um CGI em um nível que condiz com seu orçamento, Quantumania também evita uma das maiores armadilhas que vinha testando a paciência de alguns espectadores mais casuais: o fan service fútil que obrigava a inclusão de um sem número de referências a produções futuras. Fechado em si mesmo, o terceiro Homem-Formiga deixa de lado os planos a longo prazo de Feige e companhia por quase toda a sua duração, resolvendo seus próprios conflitos e fugindo do “esquema de pirâmide” que o Marvel Studios vinha se tornando desde o fim da Fase 2. Mesmo os easter eggs dedicados só aos leitores dos quadrinhos são mais escassos que em outros títulos da franquia, dando ao filme uma autonomia que há muito não se via nas produções do estúdio.

Isso não quer dizer que o filme escape de outros problemas antigos do MCU. A grandiosidade e seriedade exigidas pela história de Quantumania limitam o humor espirituoso característico de Reed, que aparece em alguns momentos inoportunos. Por mais que grande parte das piadas, especialmente as protagonizadas por M.O.D.O.K., façam sentido no contexto do filme, elas são entregues em momentos aparentemente aleatórios, interrompendo sequências de ação e diálogos emocionais de forma incômoda.

Superando expectativas, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é a diversão despirocada que se espera de um bom filme de gibi. Ainda que plante algumas sementes para o futuro do MCU, o longa se limita a contar uma história própria e fecha a trilogia de Scott Lang e sua família com chave de ouro.

 

Nota do Crítico
Bom