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Crítica

Histórias Proibidas | Crítica

Solondz volta a polemizar

MH
14.01.2002, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Num tempo em que o escapismo de duendes e bruxos se presta a entreter um público ainda dolorido com as lembranças do difícil ano de 2001, as obras do diretor norte-americano Todd Solondz se tornam ainda mais incômodas. Um dos mais promissores cineastas do circuito alternativo, Solondz mantém uma predileção especial por temas tabus de sua sociedade, como a hipocrisia racial, a futilidade juvenil e a falência da ordem familiar. Sempre retratados de forma firme, com certo humor negro, esses assuntos se transformam, na mão do diretor, em verdadeiras bombas de efeito moral.

Com "Fear, Anxiety & Depression" (1989), sua estréia, aos trinta anos de idade, Solondz pôde logo sentir a realidade da indústria. Produzido por um grande estúdio, "Fear..." foi mutilado pelos executivos e não ficou como o diretor sonhava. Desiludido, largou o cinema e virou professor de inglês para imigrantes russos. Um nerd típico, introspectivo, esquisito, Solondz levaria a vida tranquilamente, não fosse um segundo convite para dirigir, vindo de sua advogada. Então, de forma independente, com orçamento baixíssimo, o cineasta ironizou a juventude em "Bem-Vindo à Casa de Bonecas" ("Wellcome to the Dollhouse", 1995) e recebeu inúmeros aplausos em Cannes com o fortíssimo "Felicidade" ("Happiness", 1998).

Retrato caricato

Solondz volta a polemizar com "Histórias Proibidas" ("Storytelling"). O título em inglês resume mais apropriadamente a idéia, algo como "contar histórias". O filme se divide em duas partes, "Ficção" e "Não Ficção". Na primeira, cerca de 26 minutos de duração, Vi (Selma Blair), uma aluna de literatura, abandona o namorado deficiente (Leo Fitzpatrick) e se entrega por uma noite ao seu professor, o negro Sr. Scott (Robert Wisdom), vencedor de um Pulitzer. No meio da relação, subitamente a adoração se transforma em pânico, a menina percebe que o seu liberalismo não supera certos preconceitos racistas. Na aula seguinte, a garota relata as experiências em um texto, fato que provoca uma celeuma generalizada na turma. "Por que narrar coisas tão grosseiras, bizarras?", questiona uma colega. "Mas eu não quero provocar, isso é a nossa realidade", argumenta Vi.

"Não-Ficção", a parte mais extensa e elaborada, retrata o cotidiano de uma família típica. Scooby (Max Weber), o estereótipo do adolescente alienado, sonha em comandar um talk-show, para desgosto do pai, Marty (John Goodman). Quando surge um diretor de cinema, Toby (Paul Giamatti, parecidíssimo com Solondz), interessado em produzir um documentário sobre a juventude norte-americana, Scooby enxerga uma chance de brilhar. Demonstrações de discriminação, tanto sexual quanto racial, permeiam o episódio. Interessado em entreter a audiência e chamar atenção para seu filme, Toby se limita a produzir um retrato caricato de Scooby.

Aparentemente não há ligação entre as duas partes, mas as entrelinhas exibem um posicionamento bem claro de Solondz: a análise da sua própria linguagem. No primeiro, Vi utiliza a ficção literária para expor de maneira impactante uma experiência bem verdadeira. No segundo, Toby cria um documentário, mas reforça ao extremo os defeitos mais gritantes da personalidade de Scooby. Como justificativa para tanta audácia narrativa, Solondz esclarece: "Não há crueldade nos meus meios, eu apenas tento mostrar às pessoas o lado cruel que existe em cada um de nós e na nossa sociedade, sem hipocrisia". Um episódio curioso exemplifica bem a questão toda: filmado no primeiro semestre, o filme possui uma cena em que aparece o WTC. Solondz foi pressionado para que apagasse digitalmente as torres. "Fora de cogitação", respondeu. Não interessa ao diretor conservar simbolismos, mas refletir coerentemente sobre a realidade.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Histórias Proibidas

Storytelling

2001
87 min
Comédia
País: EUA
Classificação: 18 anos
Direção: Todd Solondz
Roteiro: Todd Solondz
Elenco: Selma Blair, Leo Fitzpatrick, Robert Wisdom, Maria Thayer, Angela Goethals, Devorah Rose, Nancy Anne Ridder, Steve Rosen, Aleksa Palladino, Mary Lynn Rajskub, Tina Holmes, Paul Giamatti, Mike Schank, Xander Berkeley, Mark Webber