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Crítica

Hellboy (2019)

Reboot desperdiça o bom momento das produções baseadas em quadrinhos com narrativa bagunçada

17.05.2019, às 20H05.
Atualizada em 17.05.2019, ÀS 20H17

Hellboy é o trabalho da vida de Mike Mignola, renomado quadrinista que não só criou o herói como também construiu um sólido universo com fortes inspirações em mitos e lendas de culturas diversas. O personagem chegou aos cinemas em filmes dirigidos por Guillermo del Toro, mas não tiveram uma arrecadação satisfatória, cancelando prematuramente os planos do diretor para uma trilogia. Pouco mais de dez anos depois chega aos cinemas um reboot que desperdiça o bom momento das produções baseadas em quadrinhos com uma narrativa bagunçada.

Com a iminência da ressurreição de Nimue (Milla Jovovich), conhecida como Rainha do Sangue, Hellboy é convocado pelo professor Trevor Bruttenholm (Ian David McShane) para auxiliar os agentes do BPDP na missão de impedir que a bruxa extermine a vida na Terra. Para cumprir uma tarefa atribuída por seu próprio pai, o demônio entra em uma jornada que levanta dúvidas sobre seu papel na guerra entre os seres humanos e as criaturas mágicas. A trama é baseada em uma longa história dos quadrinhos, iniciada em Clamor das Trevas, passando por Caçada Selvagem e concluindo em Tormenta e Fúria. Por se tratar de um recomeço da franquia nas telonas, adaptar um arco tão grande cria um problema de ritmo que fica nítido logo nos primeiros minutos de projeção.

O longa tenta a todo custo se afirmar como uma abordagem inovadora ao gênero de super-heróis, desenvolvendo um enredo que se ramifica em uma sequência de eventos desconjuntados, que são menos complicados do que o roteiro tenta fazer parecer. A produção segue a jornada do herói quase à risca, mas tenta disfarçar esse direcionamento com um história que embaralha seus acontecimentos de forma não cronológica e se apoiar em um humor mal elaborado, com piadas fora de hora. Além de comprometer o andamento do filme, essa falta de cuidado acaba prejudicando o próprio Hellboy.

Embora David Harbour se esforce para encontrar uma nova voz para o personagem, sua versão descaracteriza o personagem ao lidar com conflitos desinteressantes. A luta de Hellboy contra o destino de se tornar Anung Un Rama, a besta que libertará o apocalipse sobre a Terra, é parte do personagem. Porém, o filme desenvolve esse confronto interno de forma previsível e acaba criando uma personalidade marrenta, cheia de frases de efeito e pouca consistência. Um bom exemplo está em sua relação com Trevor Bruttenholm, fragilizada por diálogos artificiais que criam uma dinâmica que beira a vergonha alheia por retratar um caçador sobrenatural como uma espécie de adolescente em crise.

Com um grande investimento em efeitos práticos, o longa tem seu maior trunfo na composição visual. Consciente de que adaptar um arco que envolve bruxas, gigantes, fadas e até o próprio inferno, o diretor Neil Marshall faz bom uso de computação gráfica e constrói uma atmosfera aterrorizante. São nos momentos de pavor que Hellboy encontra personalidade e se distancia do que os filmes baseados em quadrinhos produzem atualmente. Contudo, é pouco para um filme com a responsabilidade de reiniciar uma franquia celebrada por sua originalidade.

Nota do Crítico
Regular