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Guardiões da Galáxia | Crítica

Marvel leva seu universo cósmico ao cinema com uma mistura de Star Wars e Indiana Jones

31.07.2014, às 01H51.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

Uma equipe espacial criada em 1969, recriada algumas vezes ao longo das décadas e que nunca desfrutou de prestígio sequer próximo de Quarteto Fantástico, Vingadores, X-Men... os Guardiões da Galáxia entraram no radar da Marvel Comics novamente há pouco mais de cinco anos, em 2008, com uma nova formação nos quadrinhos. Reunindo personagens quase esquecidos - um deles, Groot, é mais antigo que o próprio Homem-Aranha e foi visto um par de vezes em 45 anos -, a chamada Casa das Ideias conseguiu que a dinâmica divertida, que lembra a de uma família disfuncional, conquistasse novos leitores. O sucesso em sagas espaciais rendeu não apenas uma, mas duas séries regulares (a segunda ainda em pleno vapor) e agora uma adaptação ao cinema, colocando alguns dos heróis mais improváveis da Marvel ao lado de pesos-pesados como Hulk, Capitão América e Thor.

guardioes da galaxia

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Curiosamente, foi também em 2008 que o Homem de Ferro, herói de segunda classe da Marvel na época, ganhou seu primeiro filme, explodindo em popularidade e alavancando a chamada Fase 1 do Marvel Studios no cinema. Não é, portanto, coincidência alguma que a empresa como um todo esteja flexionando músculos adormecidos, explorando possibilidades novas de lucros nas telonas, já que seus outrora principais heróis (Homem-Aranha, Wolverine, Quarteto...) estão nas mãos de outros estúdios. A aposta era arriscada, dependendo inicialmente do marketing de uma marca nova e o logo da Marvel no topo. Porém, graças à inspirada contratação do diretor James Gunn (do bom Seres Rastejantes), que corroteirizou o filme ao lado de Nicole Perlman (a primeira mulher a escrever um filme da Marvel), e ao direcionamento do presidente Kevin Feige o longa saiu não apenas à altura das produções anteriores do estúdio, mas superou boa parte delas.

Com uma relação com o universo cinematográfico Marvel apenas superficial (por enquanto), Os Guardiões da Galáxia tem mais coisas em comum com duas criações de George Lucas, Indiana Jones e Star Wars. Do primeiro, repete quase integralmente a sequência de abertura. Do épico espacial, divide especialmente características de personagens: há o grandalhão forte e ininteligível pelo público (Groot/Chewbacca, voz de Vin Diesel), a princesa durona (Leia/Gamora, Zoë Saldana), o diminuto ser cheio de recursos (R2D2/Rocket Raccoon, voz de Bradley Cooper) e o anti-herói cheio de charme, uma nave bacana e humor fora de hora (Han Solo/Peter Quill, Chris Pratt). Drax (Dave Bautista), por sua vez, é o arquetípico "músculos", sem o qual equipe nenhuma sobreviveu nos quadrinhos. Todos eles, no entanto, vão muito além da imitação, encarnando individualmente vários tipos de comédia (o físico, o autodepreciativo, o de bordões...). A mistura não poderia ter dado mais certo. Cada um encanta à sua maneira - em uma história que, se não reinventa a roda e se apressa em alguns momentos, ao menos é redonda quase à perfeição.

No filme, a equipe reúne-se inadvertidamente. Um precisa do outro pelos motivos mais mesquinhos possíveis. Mas não demora para que essa coleção de indivíduos comece a operar como um time, especialmente quando percebem que a segurança de seu pedaço no universo está ameaçada por um vilão terrível, Ronan - O Acusador (Lee Pace), que deseja devastar o planeta Xandar, lar da força espacial da Tropa Nova. Note como também nos vilões há paralelos com Star Wars: existe um mestre poderoso (que passa parte do filme dando ordens como uma holografia) e seu atormentado assecla vestido com uma armadura exótica, que lidera um exército contra uma armada oponente.

Ronan funciona como um antagonista típico, conhecido, o que só exalta ainda mais as ações descontroladas da equipe, que atua completamente à parte das expectativas do público. Espectadores estes que, entre nomes esquisitos e peles coloridas alienígenas, têm na figura de Peter Quill, o único humano em tela, seu ponto de apoio. É ele quem canta e dança hits dos anos 80 e cita filmes de 20 anos atrás, época em que foi abduzido e levado ao espaço. Em contrapartida, os fãs dos quadrinhos - ainda que tenham que aceitar mudanças expressivas nas origens de personagens como Quill, por exemplo - têm um sem-fim de referências escondidas e escancaradas pra buscar. A ligação com o universo estabelecido nos cinemas pode ser tangencial, mas existe. E deve ser muito aprofundada a seguir.

Graças às excelentes piadas (uma delas, a de Jackson Pollock, em especial é histericamente pesada) que entram a cada cena com tempo preciso, este é o filme mais divertido da Marvel até hoje. Mesmo nas sequências mais frenéticas de ação, cujo 3D funciona a contento, há sempre espaço para a comédia.

Confiante, antes mesmo do lançamento, o estúdio, que vive uma verdadeira Era de Ouro nas telas - já tendo colocado seis filmes entre as 100 maiores bilheterias de todos os tempos -, já até anunciou uma continuação, prova de que não está receoso em apostar alto. O sucesso de Guardiões da Galáxia deve abrir as portas agora para personagens ainda mais curiosos, explorando recônditos ainda mais escondidos desse universo, e também para uma maior integração desses personagens com os já conhecidos do grande público. Resta saber como algo tão cômico vai integrar-se com os normalmente mais convencionais e equilibrados filmes de ação do estúdio.

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Nota do Crítico
Ótimo