Godzilla II: Rei dos Monstros/Divulgação

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Crítica

Godzilla II: Rei dos Monstros

Filme de luta de monstros gigantes é ofuscado por péssimo arco humano e pressão para estabelecer o futuro da franquia

30.05.2019, às 18H09.
Atualizada em 30.05.2019, ÀS 18H22

Não há dúvidas que o Godzilla é um dos monstros mais icônicos do cinema, mas o papel das produções norte-americanas nesse legado é mínimo e questionável. Ao longo de seus 65 anos de existência, as produções japonesas exploraram todas as facetas da criatura: sua relação com desastres nucleares, o papel como protetor da Terra, seu potencial destrutivo, etc. Já as duas produções dos Estados Unidos só se apegaram ao aspecto desastroso do monstro, sempre criando um drama humano correndo em meio ao caos.

Godzilla II: Rei dos Monstros quer mudar isso, mas comete muito dos erros de seus antecessores no processo. Apesar de ser uma sequência, o filme não carrega quase nada do longa de Gareth Edwards de 2014, mas sim muito dos elementos introduzidos em Kong: Ilha da Caveira (2017), como a função da megacorporação Monarch em identificar e pesquisar os monstros gigantes, chamados de Titãs - que, por sua vez, estão despertando no mundo todo e ameaçando a raça humana. É aí que o Godzilla entra em ação para defendê-la.

É interessante ver o kaiju finalmente sendo apresentado como aliado desde o início, indicando que daqui para frente é bem provável que a franquia se aproxime cada vez mais das abordagens japonesas - e, assim, crie suas próprias histórias inéditas sem depender tanto de personagens humanos. Não é à toa que o confronto é facilmente a melhor parte do filme, que entrega grandiosos enfrentamentos entre o protagonista e monstros clássicos de sua mitologia, como o Rei Ghidorah e Rodan. Além das criaturas terem um visual grotesco o bastante, é nesses momentos que o diretor de fotografia Lawrence Sher acerta a mão e retrata os conflitos com uma aterrorizante noção da dimensão dos Titãs.

Inconsistência Colossal

Infelizmente Rei dos Monstros decepciona por carregar duas abordagens em uma, já que o tedioso lado humano ganha muito mais destaque do merece - ao ponto de comprometer a experiência. Isso é recorrente nas versões norte-americanas de Godzilla, mas aqui é levado à outro nível já que algo muito mais interessante ocorre paralelamente. Em meio ao espetáculo visual do combate, o filme tenta introduzir a história de uma família afetada pela destruição causada pelo Godzilla em 2014: após perder seu filho, a doutora Emma Russell (Vera Farmiga) dedica sua vida a pesquisar formas de pacificar os Titãs; já Mark (Kyle Chandler), seu marido, lida com o luto afastando-se de sua mulher e filha, Maddie (Millie Bobby Brown), para estudar lobos. Quando as criaturas despertam, ambos se tornam partes importantes para acompanhá-las.

O problema é justamente como o núcleo humano é reativo ao verdadeiro lado interessante do longa, servindo apenas para criar uma nova perspectiva que, no fim das contas, não cumpre o objetivo de facilitar a empatia do espectador e, pior ainda, complica o aproveitamento da outra metade. Mesmo que tenham muito tempo de tela, nenhum personagem é bem desenvolvido para ter qualquer peso narrativo - tanto é que, quando a trama busca conectar as duas partes, o faz a partir de sacrifícios pouco emocionantes ou sequer impactantes. O maior exemplo disso talvez seja o vilão Jonah Alan (Charles Dance), cuja função para toda a trama é inteiramente irrelevante ao ponto de cair no esquecimento até ser reintroduzido em uma gratuita cena pós-créditos.

Não ajuda que o roteiro seja tão condescendente com o espectador, com diálogos constantemente explicativos, e que as atuações sejam tão mornas, apesar do elenco em si ser bom: Farmiga e Chandler não apresentam um pingo de emoção, o que também é visto em Millie Bobby Brown; a atriz de Stranger Things é ainda pior ao ser foco de muitas cenas dramáticas mas nunca se entregar ao papel. Tudo isso alimenta a ideia de que todo o lado humano serve apenas para completar as duas horas de duração, já que tudo parece mal planejado e é mal executado.

Rei dos Monstros tinha muito potencial nas mãos, e até indica que sabe uma forma de trabalhá-lo ao apresentar boas cenas de conflito com o Godzilla como protagonista. Mesmo assim, o longa parece preso à abordagem cansativa de “Filme de Desastre”, como seus antecessores. É certo que drama e emoção combinam com a franquia, mas feitos com tanta má vontade e excesso de personagens esquecíveis só ofusca os poucos acertos.

Aqui, especificamente, o resultado final deixa claro como a Warner Bros. e a Legendary Pictures realmente não se importam com o produto que fizeram. Com tantas citações ao King Kong e uma conclusão que mais parece um teaser de Kong vs. Godzilla, Rei dos Monstros não vai além de ser mais do que um mero capítulo de ligação do Monsterverse.

Nota do Crítico
Regular