Desde 1954, Godzilla aterroriza e encanta a humanidade. Ícone da cultura pop, já destruiu diversas cidades em sua longa carreira, encontrou outras criaturas gigantes clássicas e até chegou ao ocidente em produções controversas. Porém, em novembro de 2017, pela primeira vez o rei dos monstros chegava aos animes, com o filme animado Godzilla: Planeta de Monstros, que dois meses depois chegaria a Netflix. A produção faz parte de uma trilogia, cuja segunda parte chegou ao serviço de streaming em julho.
Toho/Netflix/Divulgação
No primeiro longa a humanidade foi obrigada a se exilar no espaço após o aparecimento de Godzilla. Com a ajuda do povo alienígena Bilusaludos, parte do que sobrou da população terráquea foge em busca de um planeta habitável para que possa recomeçar a sociedade. Após 20 anos vagando sem encontrar um local, eles decidem voltar para a Terra, onde se passaram 20.000 anos desde sua partida por conta da diferença em anos-luz. Comandados pelo capitão Haruo Sakaki, os terráqueos derrotam Godzilla ao retornar, mas descobrem que aquele se tratava de um descendente. O monstro que havia atacado a Terra da primeira vez estava adormecido, e por ter evoluído durante todo o tempo em que dominou o planeta, havia chegado a 300 metros de altura. O hercúleo desafio de derrotar a criatura é o início de Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha.
O segundo capítulo segue a linha sci-fi da anterior, porém empolga por ditar um ritmo mais dinâmico. Apesar de seguir a cartilha e deixar o embate com o monstro apenas para o clímax, a animação estabelece sua própria mitologia com mistérios e descobertas, dando espaço para a curiosidade e a interpretação. Os repetitivos diálogos expositivos de Planeta dos Monstros não aparecem com a mesma frequência, o que ajuda até mesmo na construção dos personagens. A confiança dada ao capitão Haruo, por exemplo, é comprovada por seus feitos, não por seus discursos.
Ao trazer uma nova abordagem ao kaiju, a franquia abraçou abertamente características mais modernas de ficção-científica. Conceitos de tecnologia futurista e raças alienígenas, acabaram por estabelecer uma noção de realidade fantasiosa que em certos pontos força a barra desnecessariamente para fazer com que a história atinja seus objetivos sem muita criatividade. Não há exemplo melhor que o nano-metal, uma tecnologia há muito esquecida pelos Bilusaludos na Terra, transformando a chance de matar o monstro a um Deus ex Machina gigantesco.
Visualmente o filme segue o bom resultado do anterior. Embora animes em 3D sejam controversos por geralmente não atingir o mesmo nível dos tradicionais 2D em termos de ação ou detalhes, Godzilla vai na contra-mão e mostra que é possível criar belos cenários e sequências de tirar o fôlego com o auxílio da nova tecnologia. Apesar do astro ser o monstro, a animação capricha no design de dispositivos tecnológicos como naves, veículos e armas, que quando colocados em ação impressionam pela fluidez dos movimentos.
Embora não traga as alegorias e comentários sociais do filme de 1954, a versão animada também utiliza o monstro para fazer uma crítica ao comportamento humano. Durante sua longa carreira esse aspecto foi deixado de lado muitas vezes, mas o novo “Gojira” continua a ser uma resposta à destruição causada pela civilização, despertando o vingador da Terra. Mesmo sem a mesma contundência, é uma amostra de que apesar de mirar no futuro, a produção está ciente do que já foi feito e o que Godzilla significa na cultura pop.
O capítulo final dessa nova franquia chega aos cinemas japoneses no fim de 2018 e a expectativa é grande: a cena pós-créditos promete um embate grandioso para encerrar a nova empreitada com chave de ouro.