O esporte é um prato cheio para filmes dramáticos, empolgantes, piegas e cheios de mensagens edificantes. Muitas modalidades são, de fato, cinematográficas e a emoção de grandes viradas ou conquistas inesperadas empolgam o espectador tal qual as melhores cenas ou momentos da sétima arte. A idolatria e criação de mitos, que futebol, basquete, automobilismo e tantos outros ajudam a criar são quase incomparáveis com qualquer outra. Essa característica passional, mesclada ao medo que o terror produz, era o grande atrativo de GOAT, filme que traz o nome do produtor Jordan Peele (Não, Não Olhe e Corra!) bem grande em seu pôster e tem a presença de Marlon Wayans em um papel, digamos, diferente.
Criado pelo pai para ser não apenas um quarterback profissional, mas o novo melhor de todos os tempos, Cameron Cade (Tyriq Withers) chega ao sonho de todos os jovens universitários que querem se profissionalizar no futebol americano: a certeza de que seu nome será escolhido para a liga principal. Quando Cam sofre um ataque e precisa lidar com uma lesão que pode acabar de vez com sua carreira, ele recebe o convite de seu maior ídolo, Isaiah White (Marlon Wayans), para uma semana de treinamento em um complexo no meio do deserto. As coisas, claro, saem do controle, quando Cam precisa lidar com os métodos nada convencionais do “melhor de todos os tempos”, ou na abreviação em inglês: G.O.A.T..
É complicado para um filme se vender apoiado ao nome de Jordan Peele. Celebrado por seus três filmes como um dos grandes nomes do gênero nos últimos anos, essa chancela do produtor traz um peso para a produção, que ela nunca sustenta. Ao contrário do que aconteceu com Fúria Primitiva, por exemplo, onde o selo Jordan Peele foi visto como uma forma de salvar a estreia de Dev Patel na direção, em GOAT ele parece uma jogada puramente de marketing para induzir o espectador a acreditar que o filme tocará em temas sociais e culturais assim como Nós ou Corra!. A tentativa está lá e o filme arrisca superficialmente a falar sobre idolatria, expectativas, saúde física e mental no esporte, grandes conglomerados controlados por ricaços desprezíveis e, claro, a masculinidade tóxica que permeia o ambiente esportivo.
O problema de GOAT é que todas as metáforas visuais e longos discursos de Isaiah não têm força para ser algo contundente. Tudo não passa de uma série de argumentações batidas do tipo: jogadores usam medicamentos para dor e para continuar treinando, senão alguém toma o lugar deles. Ou então: os fãs estão dispostos a tudo pelos seus ídolos. Há décadas qualquer programa de esporte da hora do almoço já diz isso. Para piorar, o filme ainda se divide em sete capítulos, cada um com a lição do dia, como se fosse muito difícil de entender cada uma das passagens ali. Tudo parece moldado para o “choque” da última cena que, veja bem, não choca em nada, não consegue ser debochada como tenta e nem mesmo o gore traz alguma novidade.
Se a esperança estava em ver Marlon Wayans em um papel diferente, o ator até consegue surpreender em alguns momentos, mas na maioria das vezes, repete os mesmos tipos de caretas que faz nas comédias, mas agora tentando ser ameaçador. Poucas são as cenas que o ator não parece saído de uma esquete de Todo Mundo em Pânico, algo que ele mostrou ser capaz em Réquiem para um Sonho e até em sua breve participação em Air: A História por Trás do Logo. Há ainda um problema sério com Tyriq Withers, já que é difícil acreditar que o ator possa ser realmente o G.O.A.T.. Falta carisma e o diretor Justin Tipping parece mais interessado em filmá-lo fazendo cara de perdido o tempo todo, do que construir um personagem oprimido pelo sistema que sempre sonhou em fazer parte.
GOAT falha ao ser um filme de futebol americano que foge do drama clássico de Duelo de Titãs ou Rudy, por exemplo. Até Adam Sandler e seu Golpe Baixo conseguem se sair melhor. Falha também ao ser um filme de terror seguindo a fórmula básica e batida do “nunca conheça seu ídolo”, mas que não encontra uma ideia que justifique o medo. Opus, também desse ano, consegue se sair melhor nesse sentido, mesmo não sendo perfeito. O problema é que GOAT não tem uma Ayo Edibiri ou John Malkovich para se apoiar. Sobra o nome de Jordan Peele e uma promessa nunca cumprida com Marlon Wayans. E essas skills, pelo menos aqui, não farão o filme de Justin Tipping ser escolhido no draft. Talvez nem mesmo um contrato de free agent.