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Por que colar estrelas de plástico no teto do quarto quando se pode mirar o céu?
A idéia de que aproveitamos mal as coisas que o mundo oferece - conceito ambientalista cada vez mais em voga na mídia e nos meios culturais dos EUA - está no centro da história de George, o Curioso (Curious George, 2006), dirigido por Matthew OCallaghan (The Itsy Bitsy Spider). Um desenho consciente, sem ser didático demais, nasceu a partir daí. E a própria origem do personagem é ligada a propostas educativas.
O macaquinho George foi criado pelo casal alemão Hans Augusto Rey (1898-1977) e Margarete Elisabeth Waldstein (mais conhecida como Margret Rey, 1906-1996) e publicado pela Houghton Mifflin desde 1941 em uma série de livros. Desde então Curious George é um verdadeiro patrimônio da pré-escola dos Estados Unidos. O animal bisbilhoteiro tem a proposta de despertar na criançada em formação o mesmo sentimento de curiosidade pelas coisas novas que aparecem diante dos olhos.
Mais do que uma renovação de mídia, do papel para o cinema, a animação de OCallaghan é uma homenagem a esses 60 anos de histórias. E não sei você, mas é ótimo se deparar com um bicho animado que não fala como um humano. Depois de tantos leões, insetos e mamutes mimetizando o mundo dos homens, George é uma refrescante volta ao normal. E uma bem-vinda volta da animação tradicional, nesses dias 3D em que vivemos. Nisso também há um movimento de resgate da tradição, da inocência. E antes de ser um filme para crianças, George, o Curioso é um filme sem malícia.
Na história, Ted (voz de Will Ferrell no original, papel que se encaixa como se tivesse sido escrito para ele) é um guia de museu que não consegue cativar as crianças. Na verdade, todo o mundo do museu parece ultrapassado pela concorrência da internet e dos videogames. Para tentar salvar o lugar, antes que seja fechado e transformado em estacionamento, o atrapalhado guia vai parar na África. Ele procura um ídolo de pedra gigante que pode se tornar uma megaexposição. Acaba encontrando o pequeno macaco George - que segue Ted até a volta à cidade, onde a sua curiosidade dispara.
Evitar modismos e atualizações desnecessárias na premissa foi a experiência que a Imagine Entertainment aprendeu com os tropeços de O Grinch (2000) e O Gato (2003) - suas primeiras empreitadas de transposição de um clássico americano pré-escolar, no caso, a obra de Dr. Seuss, ao cinema. George, o Curioso é um desenho à moda antiga, mas isso não significa que seja maçante. Além das lições há momentos de arte, como a referência a King Kong, e de humor com timing impecável, como toda a sequência da correria no prédio de Ted.
Há as concessões aos clichês de sempre, claro, como interesses platônicos e tipos vilanescos, mas isso faz parte. O trabalho de OCallaghan não deixa de ser bastante digno e, em alguns momentos, muito inspirado. Sem contar a mensagem "verde", claro, que por si só já vale a aula aos menores.