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Fica Comigo Esta Noite | Crítica

Fica comigo esta noite

26.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

Fica comigo esta noite
Brasil, 2006
Comédia/Romance - 73 min

Direção: João Falcão
Roteiro: João Falcão, com colaboração de Adriana Falcão e Tatiana Maciel, baseado em peça teatral de Flávio de Souza

Elenco: Vladimir Brichta, Alinne Moraes, Laura Cardoso, Clarice Falcão, Gustavo Falcão, Mílton Gonçalves, Zéu Brito, Alessandra Mestrini, Rodrigo Penna, Marly Bueno, Bruno Cariati, João Pedro Costas

Depois de A máquina (2006), sua estréia como cineasta, o pernambucano João Falcão aceitou assumir um projeto enroscado do produtor Diler Trindade: Fica comigo esta noite (2006), a adaptação para o cinema da peça de teatro homônima de Flávio de Souza.

Enroscado porque o projeto tentava sair do papel há anos, sem sucesso, até que Falcão reescreveu o texto e o levou adiante. O resultado é intrigante. Por um lado, fica claro que o diretor tem personalidade. Há nesta comédia romântica uma atmosfera como poucas no cinema nacional comercial. A inspiração - seja ela narrativa ou visual - em comédias de humor negro modernas, especialmente as de Tim Burton, e em filmes de quadrinhos como Sin City (o gibi faz até uma participação especial na trama), é perceptível e funciona. Por esse ângulo, a produção é cativante.

A trama acompanha o cotidiano de um jovem e apaixonado casal até que o marido, um músico, morre repentinamente. Mas ter passado para o outro lado não consegue afastá-lo da esposa e sua alma passa a contar com a ajuda de um misterioso e egocêntrico fantasma para conseguir entrar em contato com ela.

Lamentavelmete, porém, Falcão não repete aqui a boa direção de atores de A máquina. O elenco todo está teatral demais, entoando seus diálogos para uma platéia que não está ali. Perde-se naturalidade e tudo soa muito caricatural - algo que funciona no teatro mas não cabe aqui, em que se espera uma relação maior com os protagonistas. Nem os competentes veteranos Laura Cardoso e Milton Gonçalves salvam-se. De qualquer forma, estão muito melhores que Alinne Moraes e Vladimir Brichta, que vivem os personagens principais. Ele, muito pior que ela. Por conta dessa interpretação meio literal do texto - que também não tem a qualidade do original de A máquina -, os diálogos parecem duros, decorados e sem coração.

Mas que essa rigidez não faça com que diretores por aí desistam de contratar Alinne Moraes. A imagem da esforçada moça é registrada como poucas pelas câmeras, que parecem amá-la de tão linda. Se ela souber investir em sua carreira e escolher os projetos certos, pode tornar-se uma superestrela nacional.

Interpretações à parte, a fotografia, a iluminação contrastada, a direção de arte com seus efeitos artesanais, a trilha de Robertinho do Recife e o ótimo figurino de Kika Lopes casam-se muito bem com a história contada e daí vem aquela agradável atmosfera já citada. Tudo de muita competência e bom gosto. Falcão ainda dará uma dela sacudida no cinemão comercial brasileiro. Aguardemos.

Nota do Crítico
Bom