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Crítica

Festa no Céu | Crítica

Produção Guillermo del Toro celebra a morte em animação de encher os olhos

16.10.2014, às 12H01.
Atualizada em 15.06.2017, ÀS 16H31

A relação afetiva de Guillermo del Toro com a morte é uma marca do seu cinema, tão importante quanto o seu amor por monstros. Esse encanto pelo posfácio da existência o fez salvar Festa no Céu (The Book of Life), animação do mexicano Jorge R. Gutierrez abandonada pela  DreamWorks por “diferenças criativas”.

Com Del Toro na produção, Gutierrez garantiu a liberdade necessária para fazer o filme que queria, mantendo-se fiel aos conceitos definidos pelos artistas durante o processo de criação. Assim, fez três animações em uma. Usou o estilo convencional para mostra a realidade - quando uma bela guia explica a tradição do Dia dos Mortos e conta a um grupo de crianças as desventuras de Manolo, Joaquim e Maria. Os personagens ganham forma como bonecos de madeira, definindo uma segunda estética para diferenciar a história dentro da história. Quando segue para o mundo dos mortos, a narrativa encontra outro universo, em uma explosão de cores, caveiras e texturas, fazendo bom uso do 3D.

A ideia da vida após a morte é o mais belo e mais estranho traço do filme. O plano aqui não é contar apenas a história de um triângulo amoroso alimentado pela aposta entre a Morte e seu amante, Xibalba. Festa no Céu quer passar a mensagem do “seja você mesmo” e “não desista dos seus sonhos”, mas, para tanto, precisa matar seu protagonista. Manolo só descobre que precisa aceitar quem é  - um músico, não um toureiro - quando é libertado pela morte. Um conceito complexo e até perigoso para ser tratado de forma tão leve e colorida.

Para os mexicanos, a morte não é o fim, mas uma celebração da vida que foi. Para que essa pós-existência seja possível, porém, os vivos precisam honrar os mortos. Ser esquecido é deixar de existir. Assim, o filme tenta catequizar uma geração de mexicanos residentes nos EUA a honrar suas tradições ao mesmo tempo em que explica essa cultura para o restante do mundo. Neste caminho, infelizmente, se perde em uma narrativa didática e redundante, justificando para si os meios para os seus fins.

A música, parte importante da trama, acaba um pouco prejudicada pela versão brasileira, que ora decide criar versões em português para canções populares, ora apenas as legenda. Já o trabalho de dublagem, ancorado por nomes conhecidos como Thiago Lacerda e Marisa Orth é bem feito, com os atores dando personalidade aos seus personagens. O título nacional também acerta, já que uma celebração no céu parece representar melhor um longa que é mais vivo quando morto.

Ainda assim, “O Livro da Vida” de Gutierrez não é mórbido ou macabro, é apenas diferente. Suas ideias metafísicas podem soar tolas para quem não acredita nesse tipo de coisa, ou para quem acredita em outras coisas, mas a sua capacidade como animador é inegável. Crenças à parte, seu filme é um espetáculo visual, uma festa de encher os olhos.

Nota do Crítico
Ótimo