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Crítica

Êxodo: Deuses e Reis | Crítica

Sem "lutar com Deus", Ridley Scott faz leitura política da história de Moisés

MH
24.12.2014, às 17H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Se tivesse sido rodado na Era Bush, Êxodo: Deuses e Reis (Exodus: Gods and Kings, 2014) poderia ser considerado um filme subversivo, no retrato que faz de Moisés (Christian Bale) mais como líder de guerrilha, com sua experiência militar, do que como o profeta pastor de ovelhas descrito na Biblia. Como o filme de Ridley Scott foi produzido nos tempos de Obama, pós-Occupy, sua opção por uma releitura política do livro do Êxodo - em que os egípcios fazem o império e os hebreus, os "terroristas" -, por mais contestadora que possa parecer, termina sendo um tanto fácil hoje em dia.

exodus

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Embora Bale explique no início da trama que o termo israelita significa "lutar com Deus", Êxodo: Deuses e Reis não se dispõe ao enfrentamento teológico como, por exemplo, o Noé de Darren Aronofsky - um filme muito mais arrojado na sua reinterpretação do texto bíblico. Pela própria natureza da história de Moisés - que assistiu sem questionar à política de terror do Deus do Velho Testamento, com suas terríveis pragas, contra os politeístas do Egito - Scott ignora os questionamentos do homem diante do desígnio divino e transforma o episódio em uma discussão sobre o sionismo.

"Hoje os povos judeus se unem na peregrinação. O que vai acontecer quando se assentarem?", pergunta Moisés no caminho de Canaã, como se antevesse a inversão, nos dias atuais, da situação entre israelenses e palestinos, o império e os "terroristas". É uma analogia interessante, que toma boa parte do bom primeiro ato de Êxodo: Deuses e Reis, com seus diálogos sobre fanatismo e revolução. A partir daí, talvez satisfeito com o insight ou então por ser incapaz de encontrar uma única resposta, Scott deixa a discussão se diluir.

E então o épico se entrega a outra facilidade: a do espetáculo sob registro "realista". A escolha por um Moisés militarista se justifica para render uma ou outra cena de ação - batalhas campais que Scott filma com a habitual competência - e os momentos mais fantásticos, a entrega da tábua dos mandamentos e a abertura do Mar Vermelho, são encenados com a sobriedade de um teste de laboratório, diante dos quais os exageros de Cecil B. DeMille em Os Dez Mandamentos parecem verdadeiros milagres da imagem.

Resta a Bale o esforço de tentar encontrar no seu Moisés uma performance que seja convincente e não somente uma variação do cair-para-poder-levantar do seu velho Bruce Wayne. Quanto a Joel Edgerton, tremendamente diminuído na figura de um Ramsés que desinteressa a Scott (o faraó, aqui, não é muito mais do que o cone que representa o império), a sua escalação etnicamente deslocada estava malfadada desde o princípio.

Êxodo: Deuses e Reis não é o primeiro épico que interessa ao diretor por sua oportunidade de conciliar política e espetáculo. Diante deste filme, inclusive, dá vontade de rever o subestimado Cruzada, para colocá-los em perspectiva. Fica a torcida para que a eventual versão estendida de Êxodo também seja superior à original, então.

Nota do Crítico

Bom
Marcelo Hessel

Êxodo: Deuses e Reis

Exodus: Gods and Kings

2014
25.12.2014
154 min
Drama
País: EUA
Classificação: LIVRE
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage, Steven Zaillian
Elenco: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Aaron Paul, Ben Mendelsohn, María Valverde, Sigourney Weaver, Ben Kingsley