Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Filmes
Crítica

Estrada para Ythaca | Crítica

Um road movie de primeira viagem ao cinema perigoso, divino e maravilhoso

MH
27.05.2011, às 19H33.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H21

Faz sentido que a Vitrine Filmes tenha eleito Estrada para Ythaca como o primeiro título da sua promissora iniciativa Sessão Vitrine, que visa trazer ao circuito comercial filmes brasileiros com destaque em festivais. O primeiro longa-metragem dos Irmãos Pretti & Primos Parente, melhor filme na Mostra de Tiradentes em 2010, em si é ao mesmo tempo um ponto de partida e um processo já em curso.

estrada para ythaca

estrada para ythaca

estrada para ythaca

Um ponto de partida porque este road movie breaco está cheio de declarações de princípios, a começar pelos versos de Sierguéi Iessiênin que servem de epígrafe durante os créditos iniciais: "Se morrer, nesta vida não é novo / tampouco há novidade em estar vivo". Ricardo, Luiz, Pedro e Guto, os diretores do filme, interpretam quatro caras perdidos pela tal estrada para Ythaca com essa disposição serena, para o que vier, sem medo do ridículo ("do ridículo para o sublime basta um passo", diz um deles).

Mas é também um processo em curso, como o carro que literalmente tenta pegar na corrida o bêbado desgarrado. As referências cinefílicas, como na cena da encruzilhada que remete a Vento do Leste de Godard, filiam Estrada para Ythaca a uma tradição cinemanovista, ao repetir o manifesto de Glauber Rocha com os versos de Caetano por um cinema "perigoso, divino e maravilhoso". Mesmo nas canções que o quarteto entoa há um sentido de continuidade: "A gente vai levando, a gente vai levando...".

Estrada para Ythaca não fica refém das referências porque, entre uma e outra, prevalece aquele espírito desarmado do início. É um filme, como os próprios irmãos e os primos dizem em entrevista ao Omelete, que se lança ao desconhecido sem medo de errar. Nesse ponto, há um contato mais próximo não com o Cinema Novo, mas com o cinema pós-moderno de Apichatpong e Jia Zhang-ke, que, com o esgotamento das imagens, retorna à natureza para resgatar o sentido delas.

E as descobertas são filmadas sem desleixo. Quando é preciso inserir os corpos na paisagem das palmeiras, a câmera se angula em leve contraplongée para não perder nada. Dependendo dos entornos, a janela de enquadramento muda. Planos que contêm eventos (já deve estar claro a essa altura que não há uma narrativa definida aqui, então nem tudo "conta uma história"), como a hora de acender o fogo da panelada, são encerrados solenemente, com um fade-out. Já quando a música sugere um crescendo de lirismo, é cortada abruptamente; a ideia é que a experiência seja a menos artificial possível.

No fim, embora Glauber tenha sido citado, o contato sensorial que o quarteto sugere com o mundo está mais próximo do cinema que o mineiro Cao Guimarães faz hoje (embora Ythaca seja bem menos rebuscado), em filmes como Andarilho. É outro cineasta que tem se destacado em festivais mas não tem vez no circuito comercial. Guimarães talvez já seja "grande" demais para o perfil que a Sessão Vitrine pretende ter a partir daqui, mas de qualquer modo não vão faltar jovens talentos nacionais para apresentar ao grande público.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Estrada para Ythaca

Estrada para Ythaca

2010
27.05.2011
70 min
Aventura
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Direção: Ricardo Pretti, Luiz Pretti, Guto Parente, Pedro Diogenes