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Electroma | Crítica

Electroma - 30a. Mostra Internacional de Cinema

28.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 10H00
Electroma
Daft Punks Electroma
EUA, 2006
Drama/Experimental - 74 min

Direção e roteiro: Thomas Bangalter & Guy-Manuel de Homem-Christo

Elenco: Peter Hurteau, Michael Reich, Athena Stamos

O conjunto de música eletrônica Daft Punk sempre teve uma relação muito próxima com o vídeo. Seus clipes completavam sua música e vice-versa. Após o lançamento de seu segundo álbum, Discovery, a dupla francesa, formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, resolveu trabalhar com Leiji Mastumoto, o mago japonês da animação. O projeto virou o longa-metragem Interstella 5555. Como a produção foi muito bem recebida pela crítica e pelo público, o grupo decidiu trilhar o mesmo caminho depois do lançamento do disco Human After All e anunciou mais um projeto cinematográfico. Dessa vez, porém, eles trocaram de funções: dirigem e roteirizam a história, deixando a trilha sonora a cargo de outros artistas.

Daft Punks Electroma (2006), que participou da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2006, é uma odisséia visual e musical. A história acompanha o caminho de dois robôs (Peter Hurteau, Michael Reich) que pretendem se tornar humanos. O filme começa com a dupla pilotando um carro preto pelas estradas ensolaradas da Califórnia. Na placa do veículos está a palavra human. As imagens são belíssimas e remetem a um filme dos anos 70 pelo colorido da película.

A câmera se move no mesmo ritmo do carro. Acompanhamos tudo por diferentes ângulos e seqüências. Após dirigirem pelo deserto, eles chegam a uma cidade, na qual até os bebês são robóticos. Notamos um contraste em relação aos outros robôs. Os da cidade estão vestidos de forma comum, já os protagonistas usam roupas de couro preto. Até sua forma de andar é diferente, mais rápida. Isso demonstra que eles são uma espécie de rebeldes, que estão na contramão dos habitantes da cidade. Ao chegarem num tipo de laboratório, eles recebem seus rostos humanos. Isso irrita a comunidade local, causando o começo de uma odisséia final para os dois. A partir daí a narrativa ganha ares de tragédia.

O filme não é recomendado para o público em geral. Mesmo os fãs das canções do grupo francês podem ficar desapontados, já que a trilha sonora se concentra nas músicas de Chopin, Todd Rundgren, Brian Eno, Sebastien Tellier e Curtis Mayfield. Mas isso não significa que o filme seja ruim. Pelo contrário. Electroma é cheio de referências visuais e cinematográficas. Encontramos elementos de THX 1138, de George Lucas, a Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni, fora o óbvio tema presente em toda a obra do Daft Punk: Deus Ex Machina, que significa literalmente Deus surgido da máquina. A espressão veio do teatro grego e é usada hoje em dia para representar uma história que não leva em consideração a sua lógica interna.

A fotografia de Thomas Bangalter é crucial na proposta ousada do Daft Punk. As imagens contrastam com a música, que muitas vezes é alternada com momentos de puro silêncio. A história é toda narrada como se fosse um exercício de estilo através de imagens eloqüentes. Prepare-se para mais uma viagem sensorial, característica presente em todos os projetos do grupo.

Nota do Crítico
Excelente!