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Ela | Crítica

Spike Jonze cria seu sci-fi romântico e coloca Scarlett Johansson como a musa do futuro

13.02.2014, às 17H51.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H14

Em A Vida Secreta de Walter Mitty, o protagonista interpretado por Ben Stiller tem uma paixão platônica por uma companheira de trabalho, mas decide uma aproximação menos direta, utilizando um serviço online de encontros. Ele passa, então, a viver aventuras sem fim, com a finalidade única de ter um perfil capaz de impressionar sua Julieta. O cenário criado por Spike Jonze em Ela (Her, 2013) é diferente: e se existisse um mundo em que você não precisasse fazer tudo isso para conquistar sua cara-metade? E se tudo o que bastasse fosse criar alguém que te entenda do jeito que você é, vá aprendendo dia após dia como te fazer feliz e a ser feliz também?

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O roteiro de Jonze mostra Theodore, um escritor deprimido (Joaquin Phoenix), ainda dolorido com a separação daquela que ele julgava ser a mulher de sua vida (Rooney Mara). Infeliz com tudo ao seu redor, ele acaba equipando seu computador com um novo sistema operacional, que possui uma inteligência artificial que aprende e evolui baseado nas respostas que recebe, as intonações de voz, os suspiros e tudo mais. Detalhe, o tal computador que ele liga diretamente no fone de ouvido se chama Samantha e tem a voz rouca de Scarlett Johansson, que fica sussurrando palavras ao seu ouvido. Bastam algumas atualizações para que Theodore volte a sorrir e esteja completamente apaixonado.

Ela recebeu cinco indicações ao Oscar 2014 - Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original ("The Moon Song", de Karen O) e Melhor Design de Produção. Joaquin Phoenix, com seu bigode, óculos e insinuante nariz, parece aquelas máscaras de criança, mas sua atuação é impecável. Se Sandra Bullock foi indicada por Gravidade em um papel em que basicamente reage à voz de George Clooney, Phoenix poderia muito bem estar entre os cinco da categoria de Melhor Ator. E não foi exagerada também a campanha que o estúdio fez para que Scarlett conseguisse também uma vaga no prêmio da Academia de Artes de Hollywood. Sem aparecer em cena é possível "ver" o poder de sua atuação como a temida máquina que pensa e sente.

O roteiro vai mostrando - e questionando - o que é um relacionamento. Theodore poderia mesmo estar apaixonado por um sistema operacional? E quanto à paixão demonstrada pela máquina, existe algo de real ali ou tudo não passa de uma programação avançada? Vale aqui o exercício: poderiam os responsáveis pelo tal sistema operacional inteligente ter criado algo realmente emotivo ou será que eles apenas montaram scripts que ensinem ao computador a aceitar os defeitos de seus usuários e aceitá-los como eles são, criando assim um mundo perfeito? Aliás - última questão - é realmente perfeito o mundo em que a pessoa que você mais confia e gosta concorda com tudo o que você faz?

Disfarçado como um romance futurista, Ela vai enchendo a tela de questionamentos contemporâneos. Alternam-se nos 126 minutos do filme risos que vêm da graça e outros que vêm do constrangimento, da verdade que aquela situação estranha pode acontecer a qualquer momento com você aqui e agora, e não apenas naquela Los Angeles cheia de prédios. Afinal, apesar de toda a cara de ficção científica que Jonze deu ao filme, trata-se de mais uma história sobre relações e uma discussão sobre o que é real e o que é virtual neste mundo digital em que as interações acontecem cada vez mais através da tecnologia?

Nota do Crítico
Ótimo