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Crítica

Dupla Explosiva | Crítica

Filme de ação cômico com Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson joga tudo na dinâmica de tipos contrastantes

29.08.2017, às 16H49.
Atualizada em 29.08.2017, ÀS 19H04

Um dos bons reflexos da crise de financiamento em Hollywood, que atingiu a faixa do médio orçamento e basicamente dividiu a produção entre blockbusters inchados e comédias e terrores de custo baixo, é a aposta em cinema de ação executado com modéstia. Thrillers que têm pouco a perder, feitos por nomes pouco conhecidos que antes ficariam relegados à indústria do home video, e que precisam de criatividade para compensar os poucos recursos, hoje oxigenam o cinema de gênero americano, de Adrenalina a John Wick.

Apesar dos nomes famosos no cartaz, Dupla Explosiva (The Hitman's Bodyguard, 2017) se enquadra nesse perfil, e há alguns anos seria impensável que um longa estrelado por Ryan ReynoldsSamuel L. Jackson, Salma Hayek e Gary Oldman custasse apenas US$ 30 milhões. Fiel a esse espírito, a trama beira a fuleiragem (um assassino que precisa de guarda-costas?) e coloca Reynolds no papel de um agente de segurança em descrédito que tem o azar de proteger e escoltar até o tribunal de Haia um assassino de aluguel (Jackson) que testemunhou crimes de guerra de um ditador carniceiro da Bielorrússia (Oldman).

Como seus personagens, o diretor Patrick Hughes é o executor de aluguel que deve fazer seu trabalho com discrição. Depois de sair da Austrália, onde fez o típico filme de DVD Busca Sangrenta (um dos muitos longas desta geração que resgatam diálogos com o faroeste), Hughes dirigiu Os Mercenários 3 sob encomenda, e aqui faz o que pode para reproduzir em Dupla Explosiva as colisões de carro, os tiroteios e as perseguições, cenas coladas à base do carisma de seus astros. Longe de ser um thriller barato escorado na violência, como Invasão a Londres, Dupla Explosiva encara a ação como escapismo e tudo no filme funciona sob a lógica do humor.

Por princípio, as ambições de Dupla Explosiva não são as mais arrojadas, e ainda assim Hughes queima seu gás sem pensar muito. Os set pieces oferecem o básico do gênero - a perseguição nos canais de Amsterdã chega felizmente numa hora em que o filme não parecia conseguir dar mais nenhuma variedade à sua ação - e a dinâmica dos protagonistas é toda construída em cima de variações de uma mesma situação: Sam Jackson ri de tudo (aproveitando a censura R nos EUA para soltar seus palavrões como se fossem bordões de um esquete humorístico) e Reynolds sempre reage com charme passivo-agressivo (quantas vezes é possível virar o olho pra dentro sem provocar um aneurisma cerebral?). É a velha parceria dos buddy cop movies reenlatada, o bronco no contraste com o galhofeiro.

No geral, Dupla Explosiva joga demais com a familiaridade, seja nas escolhas de ação, seja nas soluções de humor. Obviamente, a familiaridade é um elemento central nessa produção mais barata - afinal Hollywood sempre pensa primeiro em investir no que é seguro e conhecido - mas falta o lampejo de invenção. Hughes não mostra ter arsenal de linguagem ou de discurso para injetar no seu filme alguma voz, e - independente do orçamento - fica difícil defender um filme, qualquer filme, que não saiba encontrar para si qualquer tipo de especificidade.

Nota do Crítico
Regular