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Dredd | Crítica

Reboot britânico aproveita liberdade para ser mais fiel à HQ do que o filme com Sylvester Stallone

12.07.2012, às 07H02.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Com a sala lotada e a presença do protagonista Karl Urban, aconteceu na Comic-Con 2012 a primeira exibição pública nos EUA de Dredd, a nova adaptação ao cinema da HQ do Juiz Dredd. Urban fez aquela média básica antes da sessão e disse que "esse filme é para vocês". É óbvio que ele falaria o que os fãs queriam ouvir, mas o fato é que o longa-metragem realmente é mais fiel ao gibi, com sua visão deformada da sisudez política de direita, do que o filme de 1995 com Sylvester Stallone, que amolece (e tira o capacete) o juiz.

dredd

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No reboot, Joe Dredd (Urban) é um dos mais temidos juízes nas ruas de um futuro distópico de Mega City One, com o poder de impor a lei, sentenciar os criminosos e executá-los no local, quando necessário. Já Cassandra Anderson (Olivia Thirlby) nunca conseguiu passar no teste para tornar-se uma juíza, mas é aceita como recruta da corporação por seu excepcional poder de ler mentes. A trama se passa durante a primeira missão de Anderson ao lado de Dredd, no gigantesco bloco residencial Peach Trees, que o bando de Madeline Madrigal (Lena Headey, cuja falta de expressividade dá à personagem um fatalismo bastante envolvente), conhecida como Ma-Ma, controla do alto do 200º andar.

A paisagem lembra Distrito 9 - ambos os filmes foram rodados na África do Sul - mas quem viu o ótimo filme de ação indonésio The Raid (exibido no Festival do Rio ano passado como Batida Policial), de 2011, vai identificar algumas similaridades com Dredd, a começar pela trama localizada no conjunto de corredores e andares, onde os dois juízes são cercados por um exército rival. A estética também é parecida, com a ação crua (mas sem as coreografias de luta de The Raid) contrastando com a fotografia saturada, que acaba deixando os cenários - visivelmente baratos - com uma interessante cara de technicolor.

É difícil dizer se Pete Travis (Ponto de Vista) chegou a ver The Raid antes de dirigir Dredd, mas essa aproximação não tira do filme seu valor - na verdade, a ultraviolência que flerta o tempo todo com a caricatura é também uma marca da HQ. O roteiro de Alex Garland (conhecido pelos scripts dos filmes de Danny Boyle A PraiaExtermínioSunshine - Alerta Solar), por sua vez, aproveita todos os bordões consagrados do juiz sem soar empolado demais, e dá espaço às muitas gangues de Mega City One (que nos quadrinhos espelhavam a variedade de bandos da juventude britânica nos anos 70 e 80) de uma forma orgânica, sem parecer que essas gangues "se fantasiam" à la Warriors.

O que pode dividir um pouco o público é o efeito estilizado que Travis arrumou para representar a viagem da droga Slo-Mo, central à trama do filme, que faz seus usuários enxergarem a realidade com uma fração da velocidade normal (por isso o nome "câmera lenta"). Parece um bullet time com LSD - que preenche e salta da tela na exibição em 3D (o longa foi rodado no formato) mas é um festival de luzes e cores que não exatamente combina com o tom do resto do filme. O que não dá pra negar é que Dredd, produção britânica de orçamento modesto e execução competente, tem liberdade para fazer esse tipo de escolha. E quando se está livre para escolher é que fica mais fácil ser fiel ao material original.

Dredd | Trailer

Nota do Crítico
Ótimo