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Crítica

Dois Dias, Uma Noite | Crítica

Irmãos Dardenne estudam altruísmo em drama distante

06.02.2015, às 11H52.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Para observar pássaros é preciso cuidado. Chegar perto demais do objeto de estudo pode espantá-lo. Esmero esse que os irmãos Dardenne aplicam no cinema. Em Dois Dias, Uma Noite (Deux jours, une nuit, 2014), a dupla segue Sandra (Marion Cotillard) sempre a distância para não afugentá-la.

A câmera examina seu sono enquanto o celular toca ao fundo. Ela demora a acordar. Quando atende, escutamos apenas o seu lado da conversa. O que importa não é a interação, mas a sua reação às más notícias. Aos poucos, seu drama é desvelado: recuperada de uma crise depressiva e pronta para voltar ao trabalho, Sandra descobre que os colegas trocaram a sua vaga por um bônus. Ela tem apenas o final de semana para fazê-los mudar de ideia pedindo o impossível: altruísmo.

Encorajada pelo marido, Sandra visita cada um dos donos do seu destino. Explica sua situação maquinalmente e espera a resposta. Os Dardenne apresentam as mais variadas reações, interessados em compor um retrato opondo compaixão e individualismo. As visitas são breves, mas mostram a complexidade de uma questão cheia de pormenores. Afinal, ajudar Sandra pode significar prejudicar a própria família. Nisso, há quem escolha não encará-la, há quem prefira confrontá-la, há quem concorde por culpa e há que use a situação para mudar a própria realidade.

Indicada ao Oscar, a atuação de Cotillard funciona dentro do estilo dos Dardenne. Sutilmente, ela expõe os conflitos da sua personagem. Pequenas expressões que mostram a angústia solitária da depressão, mesmo que amparada pela família, e leves sorrisos que apontam o possível caminho para a recuperação. Destoa apenas a sua figura bela e esguia em meio aos tipos da classe trabalhadora belga.

Mesmo distante, Dois Dias, Uma Noite não deixa de ser sentimental, o que resulta em um longa em conflito consigo mesmo. Por um lado, faz uma observação franca da natureza humana em uma situação extrema. De outro, se apega aos dramas de Sandra, sem nunca realmente entendê-la. Um olhar estrangeiro, que enxerga, mas não compreende completamente a realidade estranha que o cerca.

Dois Dias, Uma Noite | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom