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Crítica

Dog é filme de cachorro que não apela para fofura

Exceção no gênero, estreia de Channing Tatum na direção é longa sobre trauma

19.05.2022, às 11H29.

É quase garantia: se a história envolve um cachorro, este será um filme que arrancará lágrimas de seu público. Dog - A Aventura de uma Vida não quebra essa regra e, sim, deve render bons choros, principalmente de quem espera uma tocante e fofa aventura de companheirismo. Mas a estreia de Channing Tatum na direção não é exatamente um filme de cachorro ao pé da letra: este é um drama muito mais amplo, que pretende discutir temas que vão desde a indústria militar até a existência humana - sua descartabilidade e sua busca por propósito.

Existe, claro, a inescapável questão do companheirismo, já que Dog trata de um ex-soldado estadunidense encarregado com a tarefa de levar Lulu, uma pastora-alemã aposentada da guerra, ao funeral de seu principal guia. Briggs (Tatum) foi afastado do serviço por uma lesão cerebral da qual lida com os efeitos - e espera retornar à atividade. Lulu, por sua vez, é uma cachorra traumatizada que se tornou impossível de lidar e, portanto, receberá eutanásia assim que passar por sua última missão no velório. Não é surpresa alguma que a relação dos dois, criada na viagem que atravessa o estado do Oregon, mudará seus destinos. 

Mas o que é surpreendente em Dog é que não há takes demorados que focam na cara de Lulu, choros longos de sofrimento canino, ou grandes momentos emotivos de uma ligação improvável criada. Dog, na realidade, é quase frio por ser tão humano, e quando desenvolve um laço inevitável - baseado no trauma de seus dois personagens principais - se torna muito mais tocante exatamente por seu insistente pé no chão. Lulu é uma cachorra triste e sozinha, mas Dog não mostra isso apelando por seu visual ou forçando a barra na trilha sonora. O sentimento é transmitido através de seu estresse, inquietação, e todos os outros tipos de comportamento característicos de uma cachorra assustada - muito mais difíceis de testemunhar sem perder a paciência. 

Não é que Dog não tenha seus momentos divertidos. Briggs encontra pelo seu caminho personagens característicos do estado mais alternativo dos EUA, de hippies à hipsters, e o filme nunca desprende de seu carisma, mesmo em seus momentos mais tensos. Nessa jornada, a atuação de Tatum mais uma vez supera expectativas, muito porque o título do filme, claro, não se restringe à pastora-alemã. Aqui, um soldado descartado pelo exército, que sofre de convulsões e insiste em retornar ao seu comandante, passa por um arco semelhante ao da cachorra, e o paralelo, por menos sutil que seja, funciona muito bem.

Dog é a exceção em filme de cachorro por não ser exatamente o que se espera de um filme do gênero. Na realidade, talvez faça mais sentido descrevê-lo como uma evolução, uma história de cachorro que fala de temas muito maiores, e constrói uma relação humano-animal raríssima de ver, sem apelações, sem fantasia, mas com muito coração. Não há nada de errado em basear um filme na fofura canina; Mas Dog - A Aventura de uma Vida acertou ao mirar no contrário, desenvolvendo sua história no que há de cachorro no humano - e vice-versa.

Nota do Crítico
Ótimo