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Crítica

Crush à Altura 2 tenta, mas não encontra motivo de existir

Confusa entre protagonista sem propósito e leque gigante de personagens, rom-com da Netflix não tem para onde ir

11.02.2022, às 17H53.

Depois de nos apresentar a jornada de auto-aceitação da alta Jodi em Crush à Altura em 2019, a Netflix retorna com uma sequência que, logo no começo, acerta em cheio ao mirar na autoconsciência. Nossa protagonista decide encarar o teste para o musical da escola, e a diretora da peça faz a pergunta que paira no público do filme: “O que você diz para as pessoas que acham que ser muito alta não é realmente um problema?”. É como encontrar a principal fragilidade na trama e encará-la de frente, e nesse início a rom-com parece achar seu caminho. Pena que dali em diante, com a falta da problemática específica em mãos, Crush à Altura 2 perde completamente sua base e passa o resto de sua duração tentando encontrar outro alvo para mirar. 

Assim como no antecessor, é uma questão de não saber ao certo o que dizer. Crush à Altura é uma franquia bem específica, com uma problemática peculiar para se colocar na tela, principalmente porque Jodi (Ava Michelle) está rodeada de pessoas que poderiam ter mais problemas de autoestima do que ela. Até aí tudo bem, claro, qual adolescente nunca criou um drama de fim do mundo com um problema pessoal? Mas a questão principal de Crush à Altura 2 é a perda de confiança no obstáculo de sua protagonista. Três meses depois dos acontecimentos do primeiro filme, Jodi é bem resolvida e agora tem tudo que quer, e isto a deixa… desconfortável? Arrogante? É difícil dizer exatamente qual foi sua evolução - até que o filme foca na insegurança que vem com sua exposição. 

Este problema não é particular a Jodi e, inclusive, é um desenvolvimento de uma das maiores fraquezas do primeiro filme, a construção absolutamente arbitrária de personagens. As decisões de Jodi e de seus amigos parecem flutuar e pairar em lugares aleatórios, em um contexto em que a história não vai a lugar algum. Em sua preocupação em criar um arco de redenção para todos os personagens (e eu digo todos, mesmo, desde a melhor amiga de Jodi até o ajudante da rival), a produção da Netflix parece querer abraçar o mundo, e fracassar em cada uma das tentativas. 

Existem os problemas de Dunk (Griffin Gluck), o garoto perdidamente apaixonado (e cada vez mais um Jon Cryer das novas comédias românticas), de Fareeda (Anjelika Washington), que precisa se provar para seus pais, de Stig (Luke Eisner), que tem dificuldades de se expressar em público, de Tommy (Jan Luis Castellanos), que batalha com sua autoimagem. São todos dramas adolescentes, e todos temas com que o público pode se identificar. Em uma série, o leque de personagens a ser desenvolvido talvez não fosse um problema. Em sua 1h40 de duração, no entanto, Crush à Altura 2 resolve as questões de cada um sem nenhuma construção bem trabalhada. A exceção, mais uma vez, está na irmã de Jodi, Harper (Sabrina Carpenter), a única personagem que não muda de personalidade de acordo com o rumo da história. 

Novamente, não há nada de errado no coração de Crush à Altura 2. É um filme bem-intencionado, que entende problemas juvenis e que os leva a sério até certo ponto. Seu leque de personagens, que carrega o filme com algum carisma, até poderia sim estrelar uma produção episódica onde tivesse oportunidade de crescer. Mas ao invés de trabalhar melhor sua história, a produção escolheu mais uma vez presentear o público com um desperdício de oportunidade.

Nota do Crítico
Regular