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Crítica

Crítica: Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Bom como aula de história e economia, mas apenas mediano como filme

23.09.2010, às 19H12.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H08

A primeira cena de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, 2010) está no trailer e é perfeita para vender o filme, continuação do longa-metragem de 1987. A sequência mostra Gordon Gekko (Michael Douglas) recebendo de volta de um carcereiro os pertences com os quais chegou à penitenciária onde cumpriu sentença de 8 anos por fraude, lavagem de dinheiro e extorsão. Estão lá um lenço de seda, um relógio, um anel, um clipe de ouro de dinheiro - sem dinheiro - e um celular, que é maior do que um tijolo! Muita coisa mudou de lá para cá e o diretor Oliver Stone parece disposto a mostrar tudo isso.

Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Saem de cena os cabelos enlambuzados de gel, a cocaína, as prostitutas e os cigarros. Entram no quadro a preocupação com o meio-ambiente, os smartphones, a internet e o mundo globalizado. Mas uma coisa não mudou: em Wall Street, quem manda continua sendo o dinheiro. As pessoas que estão ali podem até ter trocado seus alinhados ternos por um visual mais despojado, mas é a conta bancária que as move. E neste cenário o nome de Gekko ainda ecoa forte.

Quem bem sabe disso é Jake Moore (Shia LaBeouf), um jovem com carreira promissora no centro financeiro de Manhattan e cuja especialidade são as fontes renováveis de energia. Uma das suas maiores apostas é uma pesquisa que está sendo desenvolvida na Califórnia e promete usar a força do mar para criar energia. Sua namorada é Winnie Gekko (Carey Mulligan), uma jornalista que alimenta um site independente e que - por um acaso - é filha do Sr. Gekko. Winnie não esconde o desprezo que sente por seu pai, mas Jake fará de tudo para uni-los e assim se aproximar de um dos seus ídolos.

O fantasma de 1929

De 1987 até 2008, época em que o filme é ambientado, o mundo passou por diversas crises financeiras, mas as mais comentadas são as recentes explosões da bolha da internet (2001) e principalmente a crise de 2007, que nos afeta até hoje, e foi causada pela queda da liquidez do sistema bancário estadunidense. Esta última é mostrada pelo ponto de vista dos banqueiros, focando nos bastidores das negociações que levaram o tesouro americano a injetar 700 bilhões de dólares nos bancos como saída de emergência, com medo de repetir 1929.

O filme deixa bem claro que sempre tem alguém ganhando dinheiro, mesmo nas piores crises. Mas o lado financeiro é apenas uma das facetas de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme. Diferente do projeto de 1987, que promovia a individualidade típica dos yuppies, o novo filme pretende mostrar mais o lado pessoal dos personagens, desenvolver relações afetivas e tentar provar que até mesmo os filhos do Touro de Wall Street têm coração. Para isso surge a figura de Bretton James (Josh Brolin), um dos responsáveis pela quebra de um banco concorrente, que pertencia ao mentor de Jake Moore.

Temos assim dois elementos fundamentais em Wall Street: dinheiro e vingança. Para fechar o tripé temos a ganância, que faz parte do mantra de Gekko, "Ganância é bom".

Porém, o que desequilibra a fórmula "fatos históricos + ficção" que Oliver Stone utilizou muito bem em Platoon, Nascido em 4 de Julho, JFK e W. e faz Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme cair no lugar-comum é o dramalhão exagerado em que os personagens se envolvem. E, o que é pior, a insistência de Oliver Stone em explicar por meio de flashbacks ou aparições em espelhos o que não precisa ser revisto ou explicado uma segunda vez. E assim, o que começou com um bom resumo histórico e uma didática aula de economia acaba se tornando um filme apenas mediano. As ações de Oliver Stone estão valendo cada vez menos em Hollywood. Será que é por isso que ele resolveu investir em um documentário sobre Hugo Chávez e se garantir no petróleo venezuelano?

Nota do Crítico
Bom