Filmes

Crítica

Crítica: Uma Prova de Amor

Como em Diário de uma Paixão, Nick Cassavetes acredita que, enquanto houver memória, existe vida

10.09.2009, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H52

Quem já viu Diário de uma Paixão (The Notebook, 2004) pode se sentir familiarizado com a estrutura de Uma Prova de Amor, o sexto longa-metragem de Nick Cassavetes. Mais uma vez temos um embate, via flashbacks, entre uma realidade que dói e afetos que ficaram no passado. Antes era a história de um casal. Agora, de uma família.

Kate (Sofia Vassilieva) sempre conviveu com uma leucemia, mas hoje, aos 15 anos, sua vida é mais infeliz do que antes. Seus pais (interpretados por Cameron Diaz e Jason Patric) discutem, o irmão mais velho (Evan Ellingson) se sente negligenciado e a caçula de 13 anos (Abigail Breslin) - concebida em proveta para doar um rim à irmã doente - quer decidir sozinha o que fazer com o próprio corpo, nem que tenha que lutar por isso na justiça.

Parece sinopse daqueles telefilmes de tribunal apelativos, mas o fato é que o caso judicial fica em segundo plano, e a prioridade é narrar a história de vida de Kate. Como no filme de 2004, Cassavetes bate e assopra: a doença no presente é cruel e impactante (antes eram as crises de raiva provocadas pelo Alzheimer da personagem de Gena Rowlands, agora são os vômitos e os sangramentos de Kate), já o passado guarda lembranças, mesmo aquelas associadas ao câncer, dignas de serem revisitadas.

A memória é chave nesses dois filmes do filho de John Cassavetes. Em Diário de Uma Paixão, elas precisam ser resgatadas a todo tempo pelo personagem de James Garner, por conta da doença degenerativa de Rowlands, para que o amor dos dois não se apague. Em Uma Prova de Amor, Kate tem em seu caderno recortes, fotos, montagens e frases, recolhidos ao longo dos seus 15 anos, que parecem lhe dizer que essa vida, ainda que curta, lhe tem sido plena. O esquecimento significa a morte para Nick Cassavetes, e nesse ponto Kate está sabendo se eternizar.

O que permite enxergar no filme esse traço de autor? Acima de tudo, o fato de Uma Prova de Amor ser inspirado em um livro cuja trama é consideravelmente distinta. Não há no romance de Jodi Picoult essa sensação de legado afetivo, e, ademais, o final do livro e do filme são agressivamente opostos.

Desde os testemunhos dos familiares na narração em off até as cenas felizes com câmera lenta e música ao fundo, tudo no filme é ordenado e apresentado como uma espécie de álbum de família. Certamente não deixa de ser uma coisa contraditória, mas ao mesmo tempo em que é espírita ao extremo (a ideia de uma alma anterior à concepção, as luzes do dia insinuando algo pós-morte, personagens prometendo se reencontrar), Uma Prova de Amor celebra a vida com a urgência de quem acredita apenas no instante.

Saiba onde o filme está passando

uma prova de amor

uma prova de amor

Nota do Crítico
Bom