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Crítica

Crítica: Um Namorado Para Minha Esposa

Filme argentino dá lição de feminismo em todas as outras comédias românticas recentes

26.09.2009, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H53

Gênero essencialmente machista, a comédia romântica hollywoodiana diz que mulher em depressão está precisando de um homem ou de um filho. Na Argentina é um pouco diferente. Pra começar, depressão é melancolia. E melancolia, por aqueles lados, quando não é só cultivada, é incentivada.

um namorado para minha esposa

um namorado para minha esposa

Em Um Namorado Para Minha Esposa (Un Novio Para Mi Mujer), de Juan Taratuto, conhecemos um casal, Tana (Valeria Bertuccelli) e Tenso (Adrián Suar), casado há tempos. Ela não trabalha, fica em casa reclamando de tudo e todos, o que Tenso, que trabalha numa loja de elétricos, tem que aturar quando está em casa. A nossa identificação imediata seria com o drama de Tenso - se o marido não fosse um tapado.

Desesperado por não conseguir pedir o divórcio, ele aceita o conselho dos amigos do futebol: vai procurar o lendário Cuervo Flores (Gabriel Goity), sujeito pago para seduzir a mulher do próximo. Flores tem uma condição primeira: Tana precisa sair de casa para que ele possa operar sua "mágica". Tenso então vai atrás de um emprego para a futura ex-esposa.

Para não contar demais, digamos que Tana canaliza tudo o que lhe aborrece nesse novo trabalho - e isso a contenta. É como uma personagem de Seinfeld, inconformada com regras de conduta social, esbravejando sobre o mundo - o que aqui do outro lado da tela tende a encontrar mais simpatia do que as covardias do seu marido. Num gênero sexista que parece ignorar a mais básica das conquistas feministas, Taratuto faz um filme para dizer, em resumo, que não são os homens, nem os filhos, mas o trabalho que dignifica a mulher.

Sucesso de bilheteria na Argentina no ano passado, Um Namorado Para Minha Esposa é um necessário respiro no gênero, mas isso não significa que fuja aos esquemas. Como em muitos outros filmes, a trama se passa em dois tempos (no presente Tana e Tenso fazem terapia de casal voltados para a câmera, enquanto toda essa ação se ambienta no passado) e, quanto mais se aproxima do desfecho, mais o longa se assemelha aos seus pares.

Porque se há um vício que qualquer comédia romântica sofre é o de contemporizar no final. Tana passa ao longo do filme pelas mais diversas experiências - incluindo uma regressão que praticamente nega a vida moderna, naquele passeio pelo parque-de-diversões antigo, no interior, com saia de menina e tudo, nostalgia tipicamente argentina - e talvez termine a história se acomodando no ponto em que começou...

Pode ser decepcionante, mas, de qualquer forma, o que vale mais não é a chegada, mas a viagem. E a convicção de que não dá pra ser feliz o tempo todo, durante ela.

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Nota do Crítico
Bom