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Crítica

Crítica: Substitutos

Ficção científica tem ação decente, mas escorrega nos detalhes

22.10.2009, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H54

Androides não são novidade para os roteiristas John D. Brancato e Michael Ferris, dupla que assinou Exterminador do Futuro 3 e Exterminador do Futuro: A Salvação. Imagino que Substitutos (Surrogates) tenha saído justamente daí, das conversas para delinear o universo de T-800s e resistências humanas, afinal a nova ficção científica poderia funcionar como uma espécie de futuro alternativo, quando a tecnologia dos Exterminadores foi empregada no auxílio dos humanos - e não contra eles.

Substitutos

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Acontece que, como nerds, Brancato e Ferris estão um pouco ultrapassados. A história simplesmente ignora fatos atuais que poderiam delinear melhor o universo do filme.

Na trama, ambientada em 2054, 90 e tantos porcento da humanidade trocou sua existência diária, de carne-e-osso, por androides substitutos da Virtual Self. No melhor estilo Matrix, os usuários podem sentar-se em confortáveis poltronas de conexão e projetar suas consciências em bonecos perfeitos. Diferente do clássico recente da sci-fi, porém, em Substitutos o controlador não pode ser morto caso alguma coisa acontece ao seu androide... até que um terrorista tecnológico descobre como mudar isso.

A chance de viver uma vida em um corpo completamente diferente do seu está devidamente pesquisada e registrada hoje em dia. O que são o Second Life e os MMORPGs se não exatamente isso? A oportunidade de deixar seu corpo para trás e embarcar em aventuras e situações que você não viveria de outra forma? Mas no mundo de Substitutos a opção parece meramente estética e sexual. Flerta-se usando um corpo do sexo oposto, praticam-se esportes radicais com mais frequência ou situações de risco são abraçadas sem medo... mas é só. Basicamente, as pessoas têm os mesmos empregos enfadonhos e a sociedade opera da mesma forma - só que todos são bonitos como Barbies e Kens. Excluindo dois solitários esquisitos que aparecem no Metrô, onde estão as pessoas aladas, os alienígenas, a moda extravagante que é abundante no Second Life? Brancato e Ferris simplesmente ignoram que os Substitutos de certa forma já existem.

Mesmo que aceitemos que a sociedade seguiu seu curso sem grandes abalos, há outros erros no filme - e são ainda mais problemáticos. Se em Mulher-Gato a dupla já havia recheado o roteiro de chavões, aqui repetem a mania: o policial vivido por Bruce Willis, encarregado de capturar o assassino, tem todas as características de seus pares menos criativos do gênero. E tome problemas em casa e tormentos passados...

E se é nos detalhes que mora o capeta, o texto e o diretor Jonathan Mostow, também de Exterminador do Futuro 3, ainda conseguem criar outros momentos constrangedores. A sede da maior empresa de tecnologia do planeta tem segurança inferior a qualquer hotel de esquina (sério que dá pra descer de elevador em qualquer andar do prédio e entrar na sala de pesquisa desejada?). E quando a segurança existe é baseada em formato do rosto - e qualquer um pode ter a face que quiser no filme, inclusive o de outra pessoa. Enfim, detalhes que podem até passar batidos pelo grande público, mas não escapam aos fãs da boa ficção científica.

Dessa forma, sobra pouco que se aproveite. A ação é decente e inclui uma cena de perseguição de um "Willisnator" que é bem interessante. Os efeitos são competentes, especialmente a mudança dos robôs de "ocupados" para "desocupados" e a maquiagem, que faz com que todos pareçam exageradamente belos. Mas o melhor mesmo é que não há a eterna preocupação de estabelecer uma franquia. O filme tem começo, meio e fim - e não deixa pontas ou pistas para o futuro. Se considerarmos que se trata de um filme Disney, isso sim parece ficção científica de verdade...

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Nota do Crítico
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