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Crítica

Crítica: Star Trek

J.J. Abrams apresenta sua jornada revigorada nas estrelas

07.05.2009, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H47

Normalmente visto com certo desdém pela crítica, o "filme de verão", também conhecido como blockbuster, se desenvolvido por realizadores competentes pode se tornar uma das mais divertidas formas de entretenimento.

Star Trek

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J.J. Abrams, diretor egresso da televisão, é um exemplo desses cineastas que sabem dar ao público a dose exata de mistério, ação, romance e comédia que produções de grande orçamento precisam empregar para serem viáveis nas bilheterias. Mas além de competente malabarista, Abrams é também um cara corajoso. Encarou, ao lado dos colaboradores Alex Kurtzman e Roberto Orci, o desafio de ressuscitar uma das maiores franquias da ficção científica já criadas. Ou melhor, a maior franquia, se pensarmos em volume de mídias, derivados e mesmo relevância histórica, já que Jornada nas Estrelas - A Série Clássica foi a responsável por derrubar tabus televisivos e também é objeto de culto por milhões de aficionados mundo afora.

Com isso em mente, dá pra começar a imaginar o tamanho da responsabilidade e pressão que Abrams - que mais de uma vez afirmou não ser fã da série - teve. Ele mexeu, aos olhos dos chamados "trekkers", em um verdadeiro texto sagrado (eles usam até um termo específico para isso, o "cânone"). E foi além: ao invés de comportadamente ater-se ao universo estabelecido, buscando novas aventuras com naves e tripulações distintas das conhecidas, resolveu reescrever o intocável "Velho Testamento" ao rejuvenescer a U.S.S. Enterprise e seus conhecidos heróis.

Há pelo menos um momento emblemático dessa pressão durante a produção do filme: os insistentes gritos em comunidades de fãs para que William Shatner aparecesse de alguma maneira no filme. A exigência pela presença do capitão James T. Kirk original começou no momento que o filme foi anunciado e, por incrível que pareça, não terminou nem depois que o filme estava na lata. Muita gente ainda acreditava que a aparição de Shatner ainda aconteceria, como num milagre sci-fi. Bem... talvez o próprio Shatner também acreditasse nisso, apesar de ter morrido ou se aposentado inúmeras vezes na série, mas o fato é que coube a Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock, o honrado papel de embaixador da paz entre os velhos fãs e a desejada nova geração de trekkers (será que eles continuarão usando esse nome?).

Na trama, Spock inadvertidamente retorna ao passado juntamente com um vingativo capitão romulano, Nero (Eric Bana). Na melhor tradição do saudoso Khan, o vilão busca uma violenta e genocida vingança contra o vulcano e a Federação. Cabe a um eclético grupo de novatos tripulantes da recém-inaugurada Enterprise a tarefa quase impossível de impedi-lo.

Nesse novo grupo de tripulantes, o novo Kirk é Chris Pine, em seu primeiro papel de expressão. Vê-lo em ação na primeira cena, a do bar terráqueo em que ele leva uma surra de cadetes de frota, é ver canalizadas todas as qualidades que Shatner deu ao personagem. Estão lá a arrogância e a canastrice que o tornaram famoso. Mais tarde no filme, surgem também a ternura e a amizade... algo que vimos o capitão demonstrar incontáveis vezes nas telonas e telinhas com seus amigos, Leonard "Magro" McCoy e o já citado Spock.

E por falar no médico da nave e no orelhudo imediato, Karl Urban e Zachary Quinto também evocam em seus trabalhos as atuações dos protagonistas originais dos personagens. Urban chega a ser assustador em alguns momentos em sua semelhança com DeForest Kelly. Menos ancorados em suas contrapartes clássicas, mas igualmente "fascinantes", como diria um certo analista científico, são as interpretações de Anton Yelchin, Simon Pegg, John Cho e Zoë Saldana, respectivamente Chekov, Scotty, Sulu e Uhura. Todos os personagens têm espaço de sobra para serem desenvolvidos e não faltam situações que exploram lados distintos deles. Há cenas bem-humoradas, mas são rapidamente seguidas por momentos que provam a competência daqueles jovens ex-cadetes.

O resultado, batizado simplesmente Star Trek, é revigorante. Um Tonoclen vulcano, um Viagra romulano, uma Catuaba andoriana! Abrams, Orci e Kurtzman resgatam em um roteiro envolvente e dotado de todo aquele equilíbrio que comentei acima, não o tal cansado e especializado cânone, mas a excitação e o fascínio que Trek causava na década de 1960, ao audaciosamente ir aonde homem nenhum jamais esteve. E o fazem de maneira brilhante, que não dá margem aos lamentos de fãs mais devotados, com uma viagem no tempo, um dos conceitos mais difíceis de serem explorados na ficção científica. Ao jogar dentro das regras mais confusas do gênero, o trio acerta seus torpedos de fóton em cheio, criando um universo paralelo que não ignora a existência do original, mas dá ao trio liberdade para seguir com as viagens da Enterprise por longas e prósperas décadas, como se ela tivesse acabado de zarpar do estaleiro.

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Onde assistir ao filme

Nota do Crítico
Excelente!