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Crítica

Um Lugar Qualquer | Crítica

Sofia Coppola volta às situações de Encontros e Desencontros testando um outro olhar

27.01.2011, às 19H25.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 23H06

Seria muito fácil dizer que a comédia dramática Um Lugar Qualquer (Somewhere), o quarto filme de Sofia Coppola, marca a volta da diretora ao terreno seguro de Encontros e Desencontros, depois dos riscos de Maria Antonieta. São muitas as semelhanças entre os dois filmes, é evidente, mas há também uma mudança no olhar.

sofia coppola

somewhere

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O ator de filmes de ação Johnny Marco (Stephen Dorff), assim como Bill Murray em Encontros e Desencontros, fez check-in no purgatório da fama e não tem previsão para sair. É a companhia de uma loira delicada - desta vez, em relação literalmente paternal - que oferece ao personagem um senso de autenticidade. Ao lado de sua filha Cleo (Elle Fanning) em alguns dias em Hollywood e na Itália, Johnny desperta das miragens.

Em Encontros e Desencontros, a câmera seguia Bill Murray e Scarlett Johansson a meia distância, em enquadramentos duros, frontais, um pouco à Wes Anderson, para aumentar a sensação cômica de deslocamento dos dois em Tóquio. Já a câmera de Somewhere tenta ser mais sutil (fica à diagonal, invisível, quando retrata os entornos) e ao mesmo tempo mais urgente (os close-ups em Dorff são constantes, às vezes com câmera na mão).

Com essa mudança de aproximação, Sofia Coppola procura entender o seu protagonista melhor. "Quem é Johnny Marco?", pergunta ao ator um jornalista em uma coletiva de imprensa. O mundo ilusório para nós está claro desde o momento em que a dançarina de pole dancing se multiplica como uma vertigem, mas seria Johnny Marco também um delírio? Em dois planos - a cena da coletiva e do molde na cabeça - a câmera se aproxima de Dorff com um zoom-in lento. É como se o personagem exigisse cuidado no toque, para não desintegrar à nossa frente.

Se Johnny Marco exige cuidado, se pede um olhar atento, é porque talvez seja não uma pessoa fora de lugar, mas uma pessoa que, como a conhecemos, só pode existir naquele único lugar (o gesso no braço é uma grande sacada, como se tudo em Johnny Marco fosse transitório, com exceção da tatuagem com o nome da filha). A questão essencial em Somewhere, assim como em Encontros e Desencontros, não é a inadequação, e sim a adequação: de que precisamos para ser completos onde estamos?

Enxergar que existe uma parcela de verdade dentro de um cenário hollywoodiano de aparências - o violeiro do hotel, os games que não escondem ser uma imitação da realidade - é o grande passo que Sofia Coppola dá aqui. A essa altura da carreira, negar que a vida se faz de máscaras, ademais, seria um retrocesso. Assim como fez o zoom-in antes, a câmera executa o zoom-out na cena em que Johnny e Cleo estão estirados à beira da piscina do hotel Château Marmont. O movimento abre o quadro e nos revela o entorno, e ali os dois parecem desfrutar a plenitude. A câmera se afasta para eternizar o momento.

A especialidade de Sofia é pensar sempre esses instantes singelos que seriam perfeitos para encerrar um filme. Mas Somewhere não termina ali, à beira da piscina. O final acontece bem depois, e é uma decepção. Não só por ser um desfecho de uma ingenuidade tremenda, mas especialmente por tirar de Johnny Marco tudo aquilo que, a nós, o tornava real.

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Um Lugar Qualquer | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom