Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Filmes
Crítica

Poesia | Crítica

Filme sul-coreano segue a lei primeira do bom melodrama: enxergar a vida nas pequenas coisas do cotidiano

MH
24.02.2011, às 18H18.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 23H05

Em Sol Secreto, o filme anterior do diretor sul-coreano Lee Chang-dong, a protagonista passa por provações diversas e não parece encontrar, na realidade ao seu redor, motivos para superá-las. Uma personagem religiosa diz que é importante ver Deus nas pequenas coisas, como num raio de sol, mas a protagonista responde: "Um raio de sol é apenas um raio de sol".

poesia

34a. mostra de cinema

poetry

mostra 2010

lee chang-dong

Lee volta a testar a dor de uma mulher em Poesia (Shi, 2010), o seu longa mais recente, prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. Desta vez, porém, um raio de sol não é só um raio de sol. Filme sincero que parte de uma trapaça, Poesia força a personagem a encarar o mundo com outros olhos e, por extensão, impõe também ao espectador esse novo olhar.

A trapaça, implícita no título, é deixar claro, para quem não estava reparando, que há poesia em tudo aquilo que enxergamos. Mija (Yoon Jeong-hee) é uma avó que já passou dos seus 60 anos e agora procura coisas com que se ocupar. Ela se matricula em um curso de poesia. Estuda aplicadamente, mas não consegue escrever. Quando seu professor diz que há muito a se versar sobre uma mera maçã, por exemplo, Mija passa minutos observando uma, antes de descascá-la meio desapontada com a inspiração que não vem.

A realidade tratará de dar à senhora material para sentir... A avó descobre que o neto que ela sustenta abusou sexualmente, com outros amigos de escola, de uma menina que acaba de se suicidar. Mija precisa juntar dinheiro para calar a mãe - dizem os pais dos outros garotos - mas o que ela ganha cuidando de um velho sequelado por um derrame não é suficiente. E as más notícias estão só começando.

Poesia é um melodrama em acordo com o formato que o gênero adotou na segunda metade do século passado no cinema: histórias prioritariamente femininas, de desarranjo adulto diante do tempo e do mundo em constante mudança. Nos melodramas, questões cotidianas, como não ter dinheiro para pagar alguma coisa, se revestem de importância vital não só para o personagem mas também para o espectador. Revestem-se, por assim dizer, de poesia.

O filme de Lee Chang-dong seria, portanto, um Dançando no Escuro do bem. Ambos lidam com as convenções do melodrama de forma metalinguística, mas Poesia não sobrecarrega conscientemente sua heroína de desgraças para sabotar o gênero de dentro para fora, como faz Lars von Trier, e sim para devolver ao melodrama o que suas cenas mundanas têm de transcendentais (se o melodrama hoje precisa desse serviço de restauração, já é outra questão).

O fato é que o diretor tem sensibilidade para os detalhes, não importa se for só um jogo de badmington. O texto premiado em Cannes é mesmo redondo - Mija está ao tempo todo se questionando o que é poesia, e descobrindo a valiosa lição de que poético não é necessariamente sinônimo de belo - e a atuação de Yoon Jeong-hee ajuda a elevar Poesia, um filme que no papel parece bater numa nota só mas na tela se engrandece.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Poesia

Shi

2010
25.02.2011
139 min
Drama
País: Coréia do Sul
Classificação: 18 anos
Direção: Lee Chang-dong
Roteiro: Lee Chang-dong
Elenco: Jeong-hie Yun, Hira Kim, Da-wit Lee, Myeong-shin Park, Yong-taek Kim, Kim Min-Jae , Ahn Nae-sang