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Crítica

Crítica: O Pequeno Nicolau

Adaptação ao cinema preserva o elogio da pureza da HQ de Sempé e Goscinny

01.07.2010, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H04

O elogio da pureza e a nostalgia, muitas vezes travestida de protecionismo, são temas caros aos quadrinhos francobelgas, e O Pequeno Nicolau, o filme inspirado em Le Petit Nicolas, obra criada em 1959 por Jean-Jacques Sempé e René Goscinny, cocriador de Asterix, preserva essas características.

o pequeno nicolau

o pequeno nicolau

Estamos na França dos anos 50, de tipos caricatos metropolitanos à Monsieur Hulot. O Nicolau do título (Maxime Godart) aparentemente não tem com que se preocupar. É filho único de um pai que conta vantagens e uma mãe que o mima. Cheios de problemas são os amigos de Nicolau na escola - tem o que estuda pouco, o que estuda até demais, o que come muito, o que briga muito. Nicolau, não. Vive uma infância plena. Tanto que, perguntado o que gostaria de ser quando crescer, o menino nem sabe o que responder.

Mas o primeiro sinal do amadurecimento surge numa desconfiança: Nicolau suspeita que seus pais estão querendo lhe dar um caçula. O raciocínio não passa pela cabeça do menino, mas ser o filho mais velho já fez dele um pequeno homem. O que Nicolau concebe, então, no roteiro de Alain Chabat, Laurent Tirard e Grégoire Vigneron, é um plano para manter-se não só o filho único, mas, simbolicamente, manter-se para sempre uma criança.

A sacada do filme de Tirard é nos apresentar o mundo pelos olhos do garoto - um mundo que não capta as insatisfações do pai no trabalho, por exemplo - ao mesmo tempo em que acompanhamos a realidade enxergada pelos adultos. Há duas histórias correndo em paralelo em O Pequeno Nicolau, dois pontos de vista (o adulto e o infantil) sobre uma mesma situação, e é divertida a rede de falsos acasos que o roteiro arruma para amarrá-las no final.

A questão é mais de olhar. A inocência de Nicolau e a natureza circular do filme ainda têm apelo com a audiência do cinema de hoje? No caso do público francês, existe entre eles um sentimento de tempo perdido que evidentemente ainda bate fundo, mas o que dizer dos frequentadores de cinema no Brasil, onde os adultos parecem aceitar melhor as produções latino-americanas com crianças e seus arcos melancólicos de amadurecimento via ruptura?

A distribuidora Imovision, que adaptou ao português os nomes dos personagens, acerta também ao lançar aqui o filme dublado, e não só legendado. Por tudo o que ele propõe, faz mais sentido tratar O Pequeno Nicolau como um lançamento infantil, e não como um "filme com crianças".

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Nota do Crítico
Bom