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Crítica

Crítica: O Mensageiro

Simplicidade documental para retratar a dor da perda

18.02.2010, às 17H00.

Ainda que completamente diferentes em tom, Guerra ao Terror e O Mensageiro (The Messenger, 2009) são quase filmes-irmãos, leituras sobre a guerra de pontos-de-vista diferentes do habitual. É como se o sargento James (Jeremy Renner) do primeiro voltasse pra casa e fosse forçado a atuar como mensageiro do exército.

O Mensageiro

O Mensageiro

Trabalhar na divisão de notificação de falecimento de militares no front iraquiano, porém, pode ser um trabalho tão estressante quanto o desarmamento de bombas no Afeganistão...

A trama acompanha o soldado norte-americano Will Montgomery (Ben Foster), sargento remanejado para esse serviço depois de ferimentos em combate, resultantes de uma ação que salvou vidas e rendeu-lhe o status de herói. Afinal, a fúnebre ocupação de mensageiro da morte, requer, como lhe explica o capitão Stone (Woody Harrelson), "homens de fibra moral inabalável". Se você é capaz de manter a cabeça fria durante um tiroteio em que seus companheiros estão explodindo ao seu redor, na lógica militar deve conseguir permanecer firme ao entregar às famílias de soldados a notícia que seu filho ou filha morreu no cumprimento do dever.

O versátil Woody Harrelson (Zumbilândia), indicado ao Oscar de ator coadjuvante pelo papel, está excelente como o capitão Stone. Mas é ao eterno esquisitão Ben Foster (A Sete Palmos, Os Indomáveis) a quem o filme pertence. Nem o personagem nem as situações precisam explicar sua desorientação perante o retorno à "civilização" tamanha a sua intensidade.

Em sua estreia na direção, Oren Moverman, mais conhecido como o roteirista de Não Estou Lá, faz um trabalho com simplicidade quase documental. Nas cenas externas segue os personagens com a câmera no ombro, alguns passos atrás, para que tenhamos a sensação exata da estratégia militar empregada para entregar as notícias fúnebres. É tudo friamente calculado. Com algumas poucas exceções, nas internas, estaciona a câmera em um canto do cômodo e deixa os atores livres. Diálogos pesadíssimos são acompanhados durante longos planos-sequência, especialmente nas cenas divididas por Foster e Samantha Morton, com os dois atores em quadro. A sensação é quase voyeurística... estamos assistindo de camarote ao pior momento na vida de alguém.

O Mensageiro é todo construído sobre essa velha - e sempre breve nos outros filmes - cena melodramática em que famílias recebem essa dolorosa notificação. Uns gritam, outros negam, ficam agressivos ou simplesmente desabam (a sequência com Steve Buscemi merece aplausos). Mas aqui o foco são os mensageiros e o que a mensagem faz com eles, o preço desse fardo. "Siga o protocolo e tudo vai dar certo", avisa o capitão Stone. Pena que as famílias dos mortos não tenham um manual a seguir.

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Nota do Crítico
Ótimo