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Crítica

Crítica: Notas sobre um Escândalo

Drama indicado a quatro Oscar oscila da crônica social ao thriller-de-psicopata

01.03.2007, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H22

O acúmulo de grandes nomes em Notas sobre um Escândalo (Notes on a scandal, 2006) é expressivo. No elenco, Judi Dench (a M dos recentes 007) e Cate Blanchett (O custo da coragem, O aviador). No roteiro, o dramaturgo Patrick Marber, célebre autor da peça que deu origem a Perto demais. Na trilha sonora, o compositor Philip Glass, forte no cinema desde a trilogia Qatsi até o Oscar a que foi indicado por As Horas.

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Notas sobre um Escândalo recebeu quatro indicações ao careca dourado - não por acaso, atriz principal, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e trilha sonora. São quatro performances que chamam a atenção, justamente o que o Oscar valoriza. Acontece que chamam atenção demais, especialmente texto e música.

As duas atrizes mantêm o tom de atuação discreto, mas Marber gosta de uma teatralização, ou seja, de sobrecarregar de falas momentos que deveriam ser narrados com imagens. O mesmo acontece com Glass, que compõe de maneira a hiperdramatizar as cenas, uma trilha taquicárdica de arpejos e repetições, parecidíssima com a que ele compôs para os instantes de tensão em As Horas. Reunidos, esses elementos deixam o ar de Notas sobre um Escândalo não só pesado como às vezes irrespirável.

Se a intenção do diretor Richard Eyre (Iris), ao adaptar ao cinema o romance What was she thinking?, de Zoë Heller, era sufocar o espectador com o seu exercício de sensacionalismo, o objetivo foi alcançado - menos por seu trabalho de câmera e mais pela relação de som e encenação.

Na trama, Blanchett vive Sheba Hart, uma professora de arte estreante na escola em que Barbara Covett (Dench) leciona História há anos. Sheba é o símbolo do idealismo que ainda não se desiludiu, Barbara representa o niilismo encascado com o tempo. Quando a sensual e atrapalhada novata não consegue domar seus alunos, a veterana acode. As duas ficam amigas - na intimidade, Barbara passa a narrar em um diário a sua aproximação de Sheba.

O escândalo do título já se pronuncia, no começo do filme, quando a câmera se detém por segundos em Steven Connelly (Andrew Simpson), aluno de quinze anos. O tempo de tela dispensado ao belo garoto, enquanto Sheba o observa à distância, anuncia o que virá. Aluno e professora têm um caso. Barbara descobre, promete que não revelará o segredo - e, enquanto aconselha Sheba a encerrar a relação indevida, enxerga no episódio a chance de conquistar definitivamente a "amizade" da sua "protegida".

Justiça seja feita a Marber, a narração em off do começo do filme, na qual Barbara critica com crueldade a rotina e o estilo de vida de Sheba, é de impacto eficiente (ainda mais quando Dench não deixa transparecer, na sua fisionomia, todos aqueles pensamentos verbalizados apenas para o espectador). Mas não é difícil, com o passar dos minutos, identificar na visão de mundo de Barbara os modos típicos de um stalker, o psicopata carente de atenção que elege uma vítima para ser seu objeto de afeição. A personagem de Dench começa o filme como uma espécie de cronista da mediocridade, mas termina diminuída pela simplificação do thriller-de-maníaco.

Se você já viu Louca Obsessão ou Estranha Obsessão sabe bem o que esperar do subgênero - e não é Notas sobre um Escândalo que o revolucionará. O máximo que o filme consegue, com a ajuda de Philip Glass, é fazer um pouco de barulho.

Nota do Crítico
Regular