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Crítica

Crítica: Metropia

Ficção científica conspirólatra é animação com muito conceito e pouca execução

28.10.2009, às 22H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 02H00

Quando chegou na beira do Vale da Estranheza - conceito da robôtica que diz que as pessoas tendem à aversão quanto mais expostas a criações artificiais que imitem as feições humanas - o sueco Tarik Saleh não teve dúvidas: se jogou lá embaixo de cabeça.

metropia

O primeiro filme de ficção de Saleh, a animação Metropia, se apoia num conceito visual teoricamente contraditório: personagens com rostos fotorealistas, mas movimentos pesadamente mecânicos. Talvez seja dar muito crédito ao diretor dizer que ele pensou, conscientemente, nessa contradição para traduzir visualmente uma história de manipulação de mentes em massa - mas o fato é que esse conceito é a única novidade que Metropia a oferecer.

Estamos em um futuro pós-apocalíptico típico, empoeirado, depressivo, onde o sol não parece que nascerá novamente. A população da Europa mal sai à rua; todo o continente está interligado pelo sistema de metrôs gerido por uma companhia milionária. O protagonista, Roger, nunca andou num deles, e malvisto quando circula com sua bicicleta para o trabalho. No dia em que Roger se rende e finalmente adere ao metrô, começa a ouvir uma voz...

O desenrolar do filme dá a impressão de que Saleh nem se importa com os entrementes, e já começa a sacar situações-chave da ficção científica conspirólatra: Roger é visitado por uma loira de olhos enormes, perseguido por brutamontes, entra numa reunião secreta de uma semiseita de milionários, e quando menos espera já fica encarregado de explodir tudo e garantir o futuro do planeta.

Roger é o Neo da vez, em resumo, e a animação estanque de Saleh (que filma quase tudo com plano-médio ou close-up pra manter a ação no nível do torso e do rosto dos personagens) intensifica essa sensação de que Metropia está totalmente desinteressado numa narrativa cinematográfica de fato. Tudo aqui fica no nível das ideias: a paisagem é um conceito, a premissa é um conceito, o design dos personagens é um conceito. E aí falta execução.

Metropia pode até ser interessante para designers e diretores de arte, com seu visual de vinheta estranha da MTV dos anos 90, ou para adolescentes deslumbrados, com suas frases idealistas tipo "seja você mesmo", mas todos merecemos mais do que esse enorme storyboard colocado em trôpego movimento.

Nota do Crítico
Ruim