Está para aparecer uma comédia romântica que exalte o casamento de conveniência e o amor como um investimento racional. Marido por Acaso já começa, portanto, dando a entender (além da previsibilidade habitual) que a personagem de Uma Thurman está fadada a aprender uma lição: no cinema o único amor que vale é a paixão arrebatadora.
marido por acaso
marido por acaso
Ela interpreta Emma Lloyd, especialista em relacionamentos que dá conselhos amorosos em um programa de rádio para mulheres que sonham com príncipes encantados. Ela ensina que homens assim não existem e que é preciso planejar o futuro com o pé no chão. Do outro lado da linha, Sofia (Justina Machado), com muito pesar, aceita o conselho e decide encerrar seu noivado com o bombeiro Patrick (Jeffrey Dean Morgan).
Com a ajuda de uma hacker adolescente, o bombeiro logo arma a sua vingança, e registra na rede de documentos de Nova York que Emma é sua esposa. A radialista estava de casamento marcado com o editor de seu livro de auto-ajuda, Richard (Colin Firth), e fica atônita quando descobre, na boca do cartório, que já consta um matrimônio na sua ficha. Emma vai atrás de Patrick para resolver o caso, rola aquele clima, e daí por diante... O fato de Colin Firth ser o corno oficial das comédias românticas só aumenta a previsibilidade.
O fato de o apagado diretor Griffin Dunne já ter um histórico no gênero desde a sua estreia no cinema - ele assinou A Lente do Amor em 1997 - não faz muita diferença aqui, uma vez que Marido por Acaso trabalha com todos os padrões de tom e roteiro de enlatados semelhantes. Temos a ambientação numa Nova York afirmativa (as "pessoas de verdade", os irlandeses e os indianos de Astoria, versus os esnobes de família desfeita de Times Square) e temos a mistura do humor pastelão (a cena do jantar de lançamento do livro) com o vaivém do romance (incrivel a recorrente falta de caráter desses personagens que transam com uma pessoa antes de lhe "dizer a verdade").
Se tudo no filme é regurgitado, resta então o último bastião de qualidade de Hollywood: o casting. O que salva Marido por Acaso do ocaso total é o carisma evidente de Jeffrey Dean Morgan, que age basicamente como uma versão glicosada do Comediante de Watchmen, mas sem a câmera lenta. No lugar da escopeta entra a mangueira do bombeiro, ensopando mulheres carentes por onde passa.
(Não reclame se você achou essa última metáfora machista. Uma Thurman se presta a ela por duas vezes ao longo do filme. Aliás, que mania de sair no temporal sem guarda-chuva... E justo quando a fulana está seca pra transar. Não há mensagem subliminar mais descarada.)