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Horas de Verão | Crítica

Novo filme do francês Olivier Assayas se apóia no talento do diretor de fotografia Eric Gautier

17.10.2008, às 12H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 11H01

Alguns críticos consideram o diretor de fotografia Eric Gautier o melhor operador de câmera em atividade no cinema mundial. Alguns cineastas também, tanto que o francês de 47 anos trabalhou recentemente em três longas fora do circuito europeu: Diários de Motocicleta, Santos e Demônios e Na Natureza Selvagem. E atualmente roda Taking Woodstock com Ang Lee.

horas de verão

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São os trabalhos recentes de Gautier com os cineastas Patrice Chéreau (Irmãos), Arnaud Desplechin (Reis e Rainha) e Olivier Assayas (Demonlover, Clean), porém, que melhor sintetizam seu talento. São filmes em que não há uma marcação de cena muito rigorosa, então o câmera precisa acompanhar a imprevisibilidade dos atores e também captar gestos e minúcias - ao mesmo tempo em que faz esse esforço parecer fácil, natural.

Gautier é mestre nisso, como fica evidente em Horas de Verão (L'Heure d'eté, 2008).

O filme escrito e dirigido por Assayas se passa ao longo de meses, mas trata de um período muito bem definido: um verão afetivo, das memórias de uma família que se reúne para passar férias em sua casa de campo. A casa em si, a 50 minutos de Paris, é um recanto de memórias: ali viveu um pintor cuja sobrinha-neta, Hélène (Edith Scob), agora está fazendo 75 anos de idade e preparando-se para deixar seu legado.

A questão é que dos três filhos de Hélène apenas o mais velho, Frédéric (Charles Berling), vive na França. Adrienne (Juliette Binoche) é artista nos EUA e Jérémie (Jérémie Renier) tem negócios em Pequim. Frédéric se indispõe quando a mãe lhe faz um breve testamento no dia do aniversário dela, mas o fato é que o futuro está logo aí. E a casa de campo é território do passado. Como preservar lembranças hereditárias, conciliá-las com o novo? É o que Assayas questiona nesse belo conto sobre o tempo.

O papel de Eric Gautier nesse passeio é inestimável. É como se fosse nosso guia turístico pela museologia da família. Em planos de média e longa duração, ele passa pelos corredores da casa de campo, registra móveis, pinturas, cerâmicas, filhos, netos, cunhadas. Seus movimentos são sutis. Os enquadramentos, com interações entre atores no primeiro e no segundo plano (e raramente lado a lado), investem nessa profundidade de campo para pegar as trocas de olhares com movimentos econômicos.

Há no roteiro alguns simplismos - como o momento na delegacia, para evidenciar o choque de gerações - mas o tom geral é dado não por essa idéia de choque, e sim por uma idéia, digamos, de transição tranquila. Essa percepção de que a imagem precisa ser retida com calma (daí o cuidado com movimentos desnecessários) está no centro da parceria de Gautier e Assayas.

Uma parceria que não é exibicionista, mas a serviço da história que se conta. O plano-sequência que fecha o filme, por exemplo, em que Gautier se aproxima do muro com a câmera na mão e em seguida sobe na grua para a panorâmica, é de dificílima execução, mas na tela parece a coisa mais simples do mundo.

Nota do Crítico
Ótimo